Monday, May 07, 2007

AL SUL POETA

AINDA E SEMPRE ALEIXO

Quadras de António Aleixo

Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler,
P'ra aquelas deficiências
Que os meus versos possam ter.

Julgam-me mui sabedor;
E é tão grande o meu saber
Que desconheço o valor
Das quadras que sei fazer!

Quem me vê dirá: não presta,
Nem mesmo quando lhe fale,
Porque ninguém traz na testa
O selo de quanto vale.

Sou humilde, sou modesto;
Mas, entre gente ilustrada,
Talvez me digam que eu presto,
Porque não presto p'ra nada.

Não sou esperto nem bruto,
Nem bem nem mal educado:
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado.

Não sei se sei: sou dos tais
A quem pouco saber cabe;
Mas sei que é saber de mais,
A gente saber que sabe!

O tal Aleixo, o poeta,
Que dizem ser de Loulé,
É uma figura incompleta
Sem o Magalhães ao pé.

Vim ao mundo sem saber
Que vinha a ser o que sou;
Agora morro sem querer
E sem saber para onde vou.

Os meus versos o que são?
Devem ser, se os não confundo,
Pedaços do coração
Que deixo cá, neste mundo.
Quem canta por conta sua
Canta sempre com razão
Mais vale ser pardal na rua
Que rouxinol na prisão

Adeus que me vou embora
Adeus que me quero ir
Deita cá esses teus olhos
Que me quero despedir

Com os cegos me confundo
Amor desde que te vi
Nada mais vejo no mundo
Quando não te vejo a ti

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