Sunday, September 25, 2011

EM MEMÓRIA DE RUFINO CASABLANCA

Este conto, foi escrito por Rufino Casablanca, em 1990.
Faz parte do espólio que deixou em casa de Chibía Milongo, aquando da sua morte, há três anos atrás.
Para a Chibía vão os nossos agradecimentos.
Chico Manuel

« Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência. »

Era uma vez um homem ...
( Um conto por Rufino Casablanca )

Alentejano por nascimento, um dia partiu para África, e por lá fez a sua vida.
Anos mais tarde, muitos anos mais tarde, voltou à sua terra.
Rufino José Potra, assim se chamava.
Esta ..., é a sua história ...

O Rufino, nasceu exactamente um mês depois da morte do pai.
Corria o ano de 1922.
Aquela que viria a ser sua mãe, mulher bonita e trigueira, muito desembaraçada de modos, perdera-se de amores por um amolador de facas e tesouras, também exímio a consertar guarda-chuvas e a rebitar panelas, tachos e alguidares. Homem sem pouso regular, amigo de copos e farras, com um certo ar boémio. Na carroça em que transportava a bigorna, o engenho da roda de esmeril e as restantes ferramentas do ofício, e que simultaneamente lhe servia de casa, também transportava uma guitarra. E todas as tabernas eram apropriadas para exercitar os seus dons de fadista. Todos os meses aparecia pelos largos e ruas da Vila, anunciando a sua presença com os melodiosos gorjeios da gaita que simbolizava a profissão.
O romance foi arrebatado e teve um desenlace que era previsível.
Poucos meses depois já a rapariga tinha a barriga a crescer.
E outros tantos meses mais tarde, chegou a notícia de que o amolador de facas tinha sido mortalmente anavalhado, numa briga de barraca, durante as Festas dos Capuchos.
Assim, aos oito meses de gravidez, ficou a saber que o filho ia nascer órfão de pai.
Condoídos, os patrões, não a devolveram à casa paterna e deixaram passar o tempo até ao nascimento da criança.
Todos ganharam com essa decisão : A Rosalía Potra, assim se chamava a rapariga, porque assegurou uma casa farta para o nascimento do filho; e os patrões, porque sabiam que não era fácil arranjar outra criada com as condições de honestidade e trabalho que aquela lhes garantia.
Pela parte dos patrões, nunca houve grande preocupação com o desgosto da criada. Até lhes pareceu que tinha sido uma sorte a Rosalía ver-se livre do amolador de facas, pois era sabido o feitio quezilento e brigão do rapaz, sempre disposto a largar o trabalho para se meter na fadistagem. E constantemente a vadiar por tudo quanto era feira e festa no Alentejo.
Quanto a Rosalía, bastará dizer que a partir dessa altura apenas teve como preocupação o bem estar do filho.
Este, nasceu no palacete dos patrões da mãe, uma estalagem que se situava, ali mesmo, na Praça da República, e aí viveu até à morte desta, também ele como criado da casa.
Primeiro, como moço de mandados, e mais tarde, como cozinheiro.
Excelente cozinheiro, para sermos honestos no que dizemos.
E foi já depois da morte prematura da mãe, uma santa e esforçada mulher, como todos reconheciam, e a quem uma estranha doença consumiu, que chegou a carta de chamada, enviada de Angola, por um tio, irmão da falecida.
Esse tio, que ele não conhecia pessoalmente, pois tinha sido deportado para essa colónia muitos anos antes do seu nascimento, por motivos políticos, estava estabelecido em Luanda com uma empresa que era, simultaneamente, armazém, padaria, mercearia, drogaria, restaurante e pensão.
« Casa Pero Rodrigues », assim se chamava o estabelecimento.
Foi nessa cidade, Luanda, que já fez a entrada do ano de 1945.
Tinha chegado uns dias antes, depois duma longa viagem de barco, com escalas nas ilhas de Cabo Verde e São Tomé.
O que verdadeiramente queremos contar – as andanças de um alentejano por outras paragens – começa aqui.
Aos vinte e três anos o Rufino era, como muitos outros rapazes dessa idade, um pouco irreflectido, com muito sangue na guelra, não deixava que lhe pusessem a pata em cima e, por dá cá aquela palha, arranjava um sarilho de todo o tamanho. Já se vira envolvido nalgumas boas brigas e até se dizia que não era preciso muito para o fazer sair do sério. Os que o conheciam melhor, os que com ele mais de perto lidavam, diziam que era o feitio do pai a vir ao de cima e o fazia destemperar.
Todavia, espantava toda a gente com a assiduidade com que frequentava a igreja.
Ainda em tempo de sua mãe, antes de começar a correr a região, trabalhando aqui e ali, fizera todas as comunhões, crisma e catequeses, revelando uma grande devoção, sobretudo por altura das festas religiosas, transportando os andores e os pendões, quando em dias de procissão. Tinha, até, opas de propriedade pessoal, que usava consoante o tipo de festa religiosa em que participava.
Não se lhe conheceram muitas namoradas, e aquelas que teve, quando os namoros acabavam, não lhe ficavam a querer mal.
No geral, era um rapaz respeitado, pese embora a propensão para não levar o trabalho a muito sério.
Não que fosse madraço.
Simplesmente, não coalhava emprego.
Resta acrescentar que era um homem muito bem posto, alto, ombros largos e feições correctas, tendo até algumas preocupações na forma como se vestia. Outra herança do pai.
Era este o homem que se apresentou a seu tio na cidade de Luanda, pelos finais de 1944.
Este, Rufino Potra, tal como o sobrinho, tinha sido dos primeiros comerciantes de Luanda a compreender o potencial da cidade, e rapidamente se metera nos mais diversos negócios; para além do estabelecimento que já referimos, tinha negócios de importação e exportação, nomeadamente de vinhos e bacalhau, assim como de óleos alimentares dos mais diversos tipos.
O tio de Rufino, que nunca casou nem tinha qualquer formação académica, era, porém, muito astuto nos negócios, e quando enriqueceu, sentindo-se velho e doente, cansado e muito só, prestou todo o apoio ao sobrinho na administração da sua já larga fortuna, antes de se retirar, definitivamente, para um velho casarão colonial que possuía no bairro das Ingombotas.
Embora vigiado de muito perto pelo tio, conseguiu ganhar-lhe a confiança, e começou a dinamizar os negócios da empresa, ampliando-os muito rapidamente.
Foi nessa altura que conheceu a Ana Milongo.
Como já dissemos, o Rufino, aos domingos, era frequentador da missa.
Começou por reparar naquela rapariga negra, alta e desenvolta, com porte atlético, que ocupava sempre um dos lugares mais perto do altar. Reparou, também, que era uma mulher muito bonita, elegante, com um cabelo estilo “afro”, do tipo que, muitos anos mais tarde, viria a ser popularizado por Ângela Davis, outra negra, que do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos da América, viria a dar muito que falar.
As pernas altas, cobertas quase até aos pés por um vestido muito sóbrio. Um chapéu largo, do qual pendia um véu, escondia-lhe o rosto quase por completo.
Aquela jovem mulher passou a constituir uma obsessão para ele.
Pese embora a força da sua fé católica não lhe exigir tanto, passou a frequentar a igreja todos os dias, pois descobrira que ela todas as manhãs ia à primeira missa.
E como quem está interessado sempre vai descobrindo mais coisas – basta ir fazendo perguntas – conseguiu saber que era sobrinha do sacerdote responsável pela paróquia; que pertencia a uma família católica, da classe média negra de Luanda, se esse termo se pode utilizar para definir a situação social que nessa altura se vivia na capital da colónia.
Ela, soube ele mais tarde, também reparara naquele homem que, todos os dias, marcava presença na primeira missa da manhã.
Um dia chegaram à fala.
Quando ela saiu da igreja, acompanhada pelo tio, sacerdote, como já dissemos, ele, muito desembaraçado, disse-lhe que ali ia diariamente porque a sua fé isso lhe ordenava, mas que a presença dela na igreja, também diariamente, não lhe era indiferente. E com o devido respeito lhe perguntava, na presença do tio, que muito considerava, se estaria disposta a falar com ele afim de se conhecerem melhor. Pedindo desculpa por isso, também lhe disse que já tirara informações da família dela, porque Luanda, afinal, era uma pequena aldeia. Na sua posição, precisava de uma mulher a seu lado, começava a fazer-se tarde para casar, e estava disposto a dar todas as explicações que ela, ou a família dela, achassem por bem pedir-lhe.
Assim mesmo. Tudo de rajada. E que não ficassem dúvidas sobre as suas intenções.
Tio e sobrinha ficaram atónitos com aquele palavreado.
Ela, levantando o véu que lhe cobria o rosto, disfarçando a atrapalhação que por momentos a tolheu, disse que apreciava a maneira frontal como ele se lhe dirigira e que, embora não estivesse habituada a ser abordada daquela maneira, levaria em conta o pedido dele e que falariam num dos dias seguintes.
Falaram; falaram e começaram a namorar.
Na Luanda de meados dos anos quarenta, essa não era uma situação normal, sobretudo nos meios em que ambos viviam.
E não só porque a cidade já se habituara a ver em Rufino o herdeiro duma grande fortuna, mas também porque na família de Ana Milongo, os casamentos sempre se tinham realizado entre pessoas da mesma cor.
Casaram um ano depois; e quem os casou foi o sacerdote, tio da noiva.
Foi então que começaram a nascer os filhos : Primeiro os gémeos, João e Jacinto, assim se chamaram; depois as gémeas; uma, se chamou Rosalía, em homenagem à mãe de Rufino, e a outra, Eva, como a primeira mulher.
Por essa altura já o tio de Rufino tinha falecido, deixando-o como único herdeiro e fazendo dele um dos homens mais ricos da cidade.
No princípio dos anos sessenta, quando os filhos começaram a crescer e a guerra colonial começou a fazer as primeiras vítimas é que, verdadeiramente, começaram os trabalhos deste casal. Casal que até era apontado, em certos meios, como o verdadeiro exemplo e realização da presença portuguesa em África.
Não é, porém, para falar da guerra colonial que aqui estamos. Esses assuntos apenas aqui serão abordados na medida em que tiveram influência no que pretendemos contar.
Todos os filhos de Rufino Potra e Ana Milongo tomaram partido, durante os anos sessenta, no que diz respeito à guerra. O primeiro a juntar-se à guerrilha foi o João; logo de seguida, o Jacinto desapareceu, e só um ano mais tarde deu notícias; estava em Argel e dizia que só voltaria a Angola quando esta fosse um país independente.
Mais tarde, souberam que o João tinha sido aprisionado pelas tropas portuguesas e internado no campo de concentração de S. Nicolau, no sul da Angola. E embora fossem permitidas algumas visitas por parte dos pais, a verdade é que nunca mais se restabeleceu a relação de intimidade que tinha existido antes.
As gémeas, Rosalía e Eva, também muito cedo se manifestaram a favor da independência de Angola. Quando vieram para Lisboa, já como alunas da universidade, participaram activamente em movimentos estudantis avessos ao regime e, antes de terminarem os cursos, também rumaram a Argel e acabaram por integrar as fileiras de um dos movimentos de libertação de Angola.
Por essa altura já os negócios de Rufino estavam a correr mal.
Nada aconteceu por acaso.
Primeiro, foi o desgosto de nada saber dos filhos mais velhos; durante anos não teve a menor notícia deles.
Depois, as filhas seguiram as pisadas dos irmãos e voltou a repetir-se a situação.
A mulher, Ana Milongo, refugiou-se na religião e procurou aí a cura para os desgostos.
O entusiasmo que Rufino sempre sentira pelos negócios foi esmorecendo e, por fim, desinteressou-se completamente.
Os gestores que colocou à frente das empresas não terão sido a melhor escolha e rapidamente foram perdendo competitividade na economia da cidade, acabando por abrir falência.
Foi assim que aquela família, que já tinha sido um exemplo para a comunidade, se viu, no espaço de uma dezena de anos, arruinada economicamente, destroçada e dividida como agregado familiar.
Rufino, depois de liquidar o que restava dos seus negócios, passou a viver de alguns, parcos, rendimentos.
Assim se viram estes dois seres, Rufino e Ana Milongo, completamente isolados, vivendo cada um em seu lado naquele enorme casarão, ali para o lado das Ingombotas.
Esse casarão fora o único património que restara dos tempos passados.
Até que um dia aconteceu o inesperado : Em Lisboa, dera-se uma revolução. As Forças Armadas, através de um punhado de jovens oficiais, assumiram o poder.
E, subitamente ... bem ... não tão subitamente assim, mas umas semanas depois, o filho João, que estava preso no campo de S. Nicolau, apareceu em casa. Disse que o mano Jacinto também deveria regressar em breve.
Quanto às manas, Rosalía e Eva, não tinha qualquer informação porque se encontravam em missão no estrangeiro e era provável que o seu regresso não se desse de imediato. Os pais, para falarmos a verdade, não o entenderam muito bem.
O entendimento completo da situação só viria depois, quando a cidade se encheu de guerrilheiros de todos os movimentos de libertação, que disputavam os diversos bairros, esquina a esquina, casa a casa.
Quando, passados cerca de dezoito meses, se soube que os “mobutus” já estavam perto de Catete, e os “apartaides” estavam a chegar a Novo Redondo, cercando Luanda, Rufino Potra e Ana Milongo, meteram-se num avião da ponte aérea, e aterraram em Lisboa a 12 de Novembro de 1975.
Os filhos já estavam todos em Luanda, mas passavam-se semanas que não iam a casa dos pais. Estes, estavam aflitos porque não compreendiam a actividade dos filhos; a segurança nas ruas era nula; todos as noites havia tiroteios na cidade; e nos últimos meses a casa tinha sido ocupada para ali instalar uma espécie de quartel-general, pois a toda a hora entravam e saíam militares. Que, embora fossem negros e mestiços, falavam espanhol.
Fartos de se sentirem intrusos na sua própria casa, deixaram recados aos outros filhos e, com a ajuda de Rosalía, entraram no avião que os trouxe para Lisboa.
Passado que foi um ano, quando os desgostos, as raivas e as desilusões se foram atenuando, Quando se impôs a necessidade da sobrevivência económica e a saúde mental estava por um fio, foi a altura de ultrapassar tudo o que estava para trás e prosseguir.
E esse caminho foi encontrado por Rufino e Ana Milongo na região em que ele tinha nascido.
E naquela rua da Vila, muito perto do Jardim das Meninas, junto à casa em que Rufino tinha nascido, na vizinhança do castelo medieval, numa região muito famosa pela sua cozinha, surgiu um restaurante que fazia a diferença.
Claro que as açordas e as migas, as sopas de cação, os cozidos de grão, eram os pratos fortes da casa. Uma ou outra caldeta, também brilhava na ementa.
Contudo, volta e meia, aparecia um cliente, por vezes vindo de longe – também retornado – que pedia com grande à vontade :
– « Oh comadre Ana, que mal pergunte, o compadre Rufino que diga quando é que comemos a muamba de galinha ! »
Era o Rufino na cozinha, e a Ana Milongo às mesas, aviando a freguesia com a ligeireza que o reumático permitia.
Era o Alentejo a absorver mais um caldinho de cultura culinária, com gente que vinha de fora, como, aliás, sempre tinha acontecido ao longo dos séculos.
E foi assim que, aquele casal de velhos, começou a ultrapassar o problema da sobrevivência económica.
Mas faltava alguma coisa naquelas vidas !
Era a questão dos afectos a mordê-los por dentro.
As notícias dos filhos eram muito raras, e quando ainda escasseavam mais, instalava-se naquela casa um clima de tal tristeza que muito dificilmente ultrapassavam.
Foi por volta de 1985 que os filhos começaram a aparecer.
O primeiro foi o Jacinto. Quando deixou o governo angolano, passou a integrar a embaixada de Angola na capital espanhola e um dia apareceu no restaurante acompanhado da mulher e dos filhos. Não cabem nesta narrativa as manifestações de alegria que se seguiram, porque demorariam muito tempo a descrever, mas bem podem imaginar como foram, sobretudo por parte da avó.
Depois foram as gémeas, Rosalía e Eva. Apareceram juntas e, como era habitual, à bulha uma com a outra.
Vinham para ficar.
Ambas traziam filhos, mas vinham sem marido. Nem nunca se soube ao certo se alguma vez o tinham tido. Nunca lhes foram pedidas explicações sobre esse assunto, nem elas as deram.
Segundo disseram, sobretudo a Eva, a sua contribuição para a independência de Angola, tinha chegado ao fim.
Agora, competia às novas gerações prosseguir o caminho que tinha sido iniciado há mais de vinte anos atrás. E embora continuassem fiéis aos princípios que as tinham norteado, não lhes agradava falar muito sobre o assunto. Ainda, muito em jeito de desabafo, a Eva sempre foi dizendo que não lhe agradava o rumo que o governo angolano estava a dar ao país.
Vinham para trabalhar e ficar perto dos pais.
Elas, e os filhos.
Mas foi o Jacinto quem trouxe a melhor notícia. E fora para dar essa novidade que tinha vindo ter com os pais tão rapidamente, pois ainda nem sequer tinha tido tempo de se instalar em Madrid.
O mano João estava vivo; estava em Moçambique; casado e com filhos.
Apenas tomara conhecimento disso poucos dias antes.
Depois da tentativa do chamado levantamento “Nitista”, contra o governo de Angola, em meados de 1977, e em que o mano João estivera profundamente envolvido, fugira para Cuba e, mais tarde, entrara clandestinamente em Moçambique. Aí se mantivera numa semi-clandestinidade, constituíra família, e ele, Jacinto, estava agora a tratar do assunto afim de o trazer para Portugal. Deixara a política e trabalhava na cidade da Beira.
Eva – Evita – como era tratada em família, foi trabalhar para Évora, deixando os filhos, dois magníficos rapazes, cor de chocolate, com os avós, afim de prosseguirem os estudos secundários que ainda tinham iniciado em Angola.
Rosalía foi trabalhar com o irmão Jacinto na embaixada de Angola, em Madrid. Deixou as duas filhas com os avós, também para estudarem no colégio local.
Foi quando de Moçambique chegou o João.
Trazia com ele a mulher, uma mulata alta e bonita. E as duas filhas, que eram a cara chapada da avó Ana.
Nessa altura Rufino Potra e Ana Milongo, realizaram o seu maior sonho : Juntar à mesa todos os filhos e netos.
E aquela vila alentejana, nesse verão de meados da década de oitenta, ficou marcada por gente que, vinda doutras paragens, fez daquela terra o seu ponto de encontro.
A planície se encarregaria de os integrar, tal como vem acontecendo há milénios, com todos os que aqui chegaram.
FIM

Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – Maio de 1990

Tuesday, September 13, 2011