Sunday, December 30, 2012
Tuesday, November 27, 2012
S. GENS - UMA HISTÓRIA DO HELDER SALGADO
Uma ficção do nosso colaborador Hélder Salgado.
Nesta
ficção o Hélder Salgado tenta demonstrar-nos o que se passa actualmente na
administração nacional e porque não na administração local.
São Gens
O
único sujeito
A festa tinha decorrido no lugar mais
bonito do concelho, quiçá do Alentejo e no imaginário de muita gente, que se
dizia viajada, no lugar mais bonito de Portugal, outros ainda, fazendo alardes
da sua experiência de viandantes pronunciavam-se pela Europa, outros
denunciadores de certa alarvidade, diziam sem nenhuma propriedade, que aquele
lugar era o mais bonito do planeta Terra.
Certo é que o rio do Prazer nunca deixara de
correr. Corria tanto de Verão como de Inverno e o seu caudal não diminuía de
intensidade nas estações intermédias.
O local era um verdadeiro paraíso por
desvendar.
São Gens, o santo chegara ali novinho
deixado pelos pais, que logo se aperceberam que o filho sobrevivia, naquele
sítio, sozinho.
Entre duas altas rochas, no cimo da ravina
mais alta, construíram-lhe uma choupana, cuja cobertura de esteva e piorno não
deixava entrar a água da chuva.
São Gens, curioso, desceu a ravina e
chapinhou-se com a água do rio do Prazer.
Sentiu uma estranha sensação e repetiu o
gesto. Por instinto ou por magia mergulhou nas águas que apresentavam uma
limpidez cristalina e sem nenhuma ondulação.
Mansa era aquela água que seduziu, como a
donzela mais bonita e pura que alguém pudesse imaginar o menino São Gens, que
sentiu pela primeira vez um calor humano diferente do materno.
Quando saiu da água, o jovem São Gens tinha
à sua disposição um hábito que lhe chegava até aos pés e uma corda para apertar
a vestimenta.
Sentiu-se iluminado.
Mirou-se e remirou-se.
- Sou um frade - gritou em voz alta.
O seu grito foi retornado, em eco, pelas
ravinas sete vezes, que ele ouviu com enorme espanto, admiração e surpresa.
- Frade? E porque não santo? -
Interrogou-se.
Que diferença faria a São Gens ser frade ou
santo? Estando sozinho naquele paraíso terreste, até podia ser Deus.
Certo é que sentiu algo estranho, quando se
banhou no rio e também o aparecimento da roupa, era mistério que ele não
conseguia desvendar.
Interrogou-se mas não refletiu.
A sua idade ainda não lhe permitia grandes
pensamentos, nem para isso tinha tempo, pois estava ainda a reconhecer o local.
Tentou descobrir a nascente e embora dela
muito se aproxima-se não consegui chegar à sua origem.
Bombos bravos, torcazes e seixas,
acompanhavam-no tentando afastar as pegas e os picanços. Curiosamente não se
incomodavam com os pintassilgos, verdilhões ou com os rouxinóis, parecendo quer
que estes cantassem para o São Gens, agora santo.
O jovem santo apercebia-se deste encanto e,
mais se admirava ao descer o rio, com o contínuo coaxar das rãs e o cantar dos
sapos.
Os choupos e as acácias tentavam dobrar-se
para o cumprimentar e nem as silvas e os carapetos o picavam. O rosmaninho e os
alandros intensificavam os seus cheiros, quando ele passava.
São Gens vivia um sonho encantador.
Não tinha preocupações com os alimentos pois
o vale era muito fértil em fruta de todas as espécies.
Nesta espécie de paraíso foi crescendo São
Gens.
Há sempre um dia
Um dia estando o santo na sua choupana, lá
no alto da ravina viu chegar ao rio um grupo de ciganos.
Acamparam na margem esquerda, a margem menos
agreste e arborizada e dirigiram-se à água para fazerem alguma higiene. Ao
tocarem nesta, as raparigas corriam para o acampamento para se verem ao espelho
e vestiram roupa nova, os homens surpreendidos conversavam uns com outros.
Nada disto passou despercebido a São Gens.
Agora com mais idade e possuidor de um
grande poder de reflexão, tirou todas as dúvidas que no seu espirito pairavam,
quanto ao poder daquela água.
O rio era milagreiro.
Como atacados por algo que passou
despercebido ao santo, os ciganos retiraram-se.
São Gens entristeceu-se. Tinha com a chegada
dos ciganos a possibilidade de conviver, de conversar e de trocar ideias acerca
daquele maravilhoso local, além disso, no seu íntimo de jovem agradara-lhe ver
as raparigas ciganas cuja garridice dos trajos o impressionara.
O nascimento de uma povoação
Passados oito dias da saída dos ciganos, São
Gens vê chegar uma enorme multidão de gente. Observou-a atentamente e verificou
que eram ciganos.
Deduziu e não se enganara que os primeiros
foram chamar os seus irmãos de raça para ali permanecerem. Verificou que se
organizaram e que iriam viver em harmonia.
Alguns dias passados o santo tem nova
surpresa. Vê chegar pastores com os seus rebanhos. Depois os lavradores que
cultivam a terra, que se apresentava fértil. Oficiais de vários ofícios chegam
logo a seguir. São construídas casas, na margem esquerda do rio.
Comerciantes estabelecem-se e abrem-se
tabernas e, atrás de tudo isto, começa a levantar-se a corrupção e a agiotagem.
Vagabundos e mendigos não tardam a chegar
Curiosamente a margem direita do rio é
apenas ocupada por poetas, escritores, pintores e periodicamente por estudantes.
Aqui as artes parecem querer impor a lei da sensibilidade humana, com
manifestações íntimas do pensamento cujas ideias tentavam passar para a outra
margem.
A margem esquerda insensata segue a marcha
que ela julga progressista, ignorando os sinais e os conselhos da margem das
artes.
A inquietação do santo
São Gens agora homem e senhor de um sempre
crescente poder de reflexão, pensa que algo terá que ser feito, de modo a
ordenar esta contínua avalanche de pessoas.
- Tenho a certeza que sou frade mas santo....?
- Pensava São Gens.
Esta interrogação levou-o a pensar algum
tempo e a retardar a sua decisão.
Começaram as desordens e os roubos.
As injúrias entre vizinhos eram frequentes e
aumentava de intensidade entre os ciganos e a restante população, parecendo
querer abreviar a decisão do santo, que finalmente se decide.
- Santo
ou não vou impor a minha vontade - pensou um dia, quando os conflitos se
agudizaram.
Tinha a certeza que alcançaria bons
resultados, tanto mais que quando ele descia a ravina para apanhar frutos, as
pessoas que encontrava ofereciam-lhe comida, num ato de louvável respeito, mas
que ele sempre rejeitava.
Gente nova e mais velha já o tinha procurado
para se aconselharem levados pelo seu hábito de frade e pela sabedoria que
demonstrava nos aconselhamentos.
Na reflexão que fazia a razão estava sempre
do seu lado. Decidiu o dia o local e a hora para tão delicado e ao mesmo tempo
arriscado ato.
Era dia de descanso na comunidade.
Escolheu, no meio da ravina, a rocha mais
alta e ali se prostrou logo de manhã.
Curiosos de todas as classes sociais
abeiraram-se dele, alguns mais curiosos perguntavam-lhe porque estava ali, ao
que o santo respondia apenas com um gesto de espera.
Quando julgou ter à sua beira o número
suficiente de pessoas decidiu falar.
- Vamos criar um Concelho, estão de acordo?
- Perguntou com uma voz forte, alta e decidida.
A multidão sentiu algo de estranho naquela
voz, como se fosse um elo comunicativo e simultâneo entre todos.
- Estamos – Gritou a multidão em uníssimo.
- O rio Prazer é dividido em quatro cantões,
Norte. Sul, Este e Oeste. A margem direita fica para as artes e o restante
território do rio fica para o resto do Povo - Ordenou o santo.
Os artistas rejubilando de alegria
agradeceram, seguidos da restante população, excecionando os construtores que
já há muito estudavam a maneira de se apropriarem da margem direita.
Logo começaram a estudar a maneira de
convencer o santo a deixá-los construir naquela margem.
Um dia quando São Gens resolvia uns
conflitos, construíram-lhe uma pequena casa, com duas divisões, cozinha e
quarto. Uns ainda pensaram desmanchar-lhe a choupana, mas receosos não o
fizeram.
Pensavam que o São Gens iria para a nova
casa, uma vez que não fazia sentido, sendo ele o dirigente máximo daquela
comunidade, morar numa choupana.
São Gens quando chegou ao cimo da ravina e
viu a casa, não se surpreendeu e logo pensou ser aquele simples edifício a sede
do Concelho.
Já selecionara algumas pessoas para a
feitura das leis, que teriam como base os bons costumes, por ele alcançados nas
suas visitas à povoação.
Nesta verificara que era necessário
construir ruas, lavabos e lavadouros e, até uma igreja se a população a
pedisse. Nunca a construiria por sua livre vontade, pois ele vivera sempre na
sua adorável choupana e era feliz.
Reunidos os conselheiros decidiram cobrar
impostos para estas benfeitorias. Aqui começaram os dissabores e a
contestação.
Apesar do rio do Prazer continuar com o
seu caudal de fertilidade e a vida da povoação não conhecer dificuldades,
acharam os impostos elevados.
Os ciganos decidiram não pagar. Os
vagabundos agrupando-se com os mendigos pilhavam o que podiam. Assim nasceu a
guarda e a polícia.
São Gens sente-se enfraquecer
Depois de passar uma juventude paradisíaca e
despreocupada, São Gens vê-se agora cheio de dificuldades e problemas para
governar o seu Povo.
Uma nova ideia lhe aflorou o cérebro -
implementar a democracia.
Apresentou a ideia aos conselheiros que em
unanimidade concordaram.
A mesma rocha em que antes estivera serviu
de palco para o santo, que rodeado pelos conselheiros falou ao Povo.
- Queremos - Gritou em coro a população,
para logo impor.
- São Gens fica como presidente - Pela primeira vez o santo comoveu-se sentindo algo
misterioso e humano que o conduziria à desgraça. Sentia uma espécie de
arrependimento por se julgar santo e de impor a sua vontade, embora a achasse
útil e necessária. Os acontecimentos davam-lhe razão e a maior prova é que o
queriam para presidente.
Tinha ainda outra preocupação, não conseguia
evitar os olhares de duas raparigas que pareciam disputá-lo entre si e lhe
recordavam a mesma sensação, sempre que tomava banho no rio.
A democracia é instituída e logo surgiram as
lutas de classe.
O rio continuava abundante e milagroso ia
alimentando aquelas lutas.
Com estas
surgem também as lutas pelo poder.
Caem governos após governos.
São Gens começa a ser ultrapassado e o seu
poder começa a escoar-se ao mesmo tempo que o rio começa a ser menos abundante.
Quando São Gens desce ao rio para colher
frutos para se alimentar, este já escasseiam.
Os maus negócios e a corrupção crescem
impunes.
As leis são demasiado brandas e
permissíveis, onde a administração se deixa corromper.
São Gens sente, cada dia que passa, que o
paraíso do rio do Prazer, se aproxima do fim e, apesar de todo o seu empenho e
esforço começa a sentir-se incapaz de dominar os acontecimentos, que se tornam
céleres em todas as áreas da governação.
Pedem-se empréstimos e lançam-se mais
impostos que asfixiam tudo e todos, num ciclo infernal e destrutivo.
O Concelho cai nas mãos dos credores, que
ditam a sua vontade.
O Povo agita-se e o rio enfraquece com ele.
Os poetas estão incapazes de cantar, os
escritores de escrever. Não há pintores que descrevam aquele desolador cenário.
As artes calam-se para sempre e a solo
começa a tornar-se estéril.
Os pastores vagueiam de herdade, em herdade
para alimentarem os seus rebanhos.
Ciganos e vagabundos, depois de pilharem o
que o podiam, debandam do rio. A população vai, gradualmente, em busca de
melhor vida abandonando o Concelho.
A estrutura administrativa é abalada pela
corrupção e suborno, rindo-se perante a impunidade das leis.
São Gens já não se julga santo mas um
simples frade que se penitencia a todo o momento.
O rio do Prazer secara.
A sua milagrosa água evapora-se por
encanto, tal como o menino São Gens dera com ela ao chegar.
O frade arrastando-se, dirige-se a todo o
custo para a nascente, numa tentativa de salvar aquela gente, pessoas que
sempre se confiaram nele e que ainda o adoravam.
Era o que lhe restava fazer, para se livrar
do peso que cada vez mais lhe atormentava a consciência.
Entra agora sem nenhuma dificuldade na
nascente. Os pombos já não o acompanham e as rãs e os sapos há muito tempo que
perderam o som.
Está seca.
Nenhuma humidade transparece.
O frade interroga-se com o aspeto desolador
da nascente.
- Porquê? - Grita São Gens desesperado.
O eco não retornou a sua voz.
Uma voz rouca e cavernosa soou, dos confins
da terra, aos ouvidos do frade.
- Porque tu São Gens te envaideceste ao julgaste
santo. Porque tu, São Gens, deverias ter atuado mais cedo e não atuaste. As
tuas leis, São Gens, foram brandas e permissíveis à ganância. Agora é tarde o
rio do Prazer morreu.
- Não - Gritou São Gens num esforço para tentar calar aquela voz e ao mesmo
tempo justificar-se. Esforço que ele julgava não conseguir, esforço de raiva
por não ver reconhecido o seu trabalho, nem a dedicação a uma causa, que
julgava acertada e correta.
Tinha-se colocado, inteiramente, ao serviço
daquela população e agora encontra-se sozinho, tal como os pais o deixaram
naquele local, mas sem o paraíso do rio do Prazer. Maldisse o seu destino.
Não obtendo resposta atirou o cajado que se
apoiou para subir o rio, ao teto da gruta, que logo, pedra a pedra, se foi
desmoronando.
O frade não se importou, nem esboçou nenhum
esforço para fugir à derrocada.
São Gens foi o único sujeito a morrer na
festa do paraíso acabado do rio do Prazer.
Helder
Salgado.
25-11-2012.
Wednesday, November 07, 2012
Sunday, October 28, 2012
BANDA JUVENIL DO CENTRO CULTURAL DO ALANDROAL – ACTUAÇÃO ENCONTRO BANDAS JUVENIS EM ESTREMOZ
Aqui vou deixo um vídeo da ultima musica intitulada "
It's Gospel" interpretada pela nossa banda juvenil no I Encontro de Bandas
Juvenis da Cidade de Estremoz realizado no passado de 20 de Outubro, tal como
algumas fotos desse evento em que participaram a Banda Juvenil da união
(Estremoz), banda Juvenil de Alvide (Cascais) e a banda Juvenil do Centro
Cultural de Alandroal. .
cumprimentos
Hélio Tique
cumprimentos
Hélio Tique
Wednesday, September 26, 2012
PLÍNIO, O BORBOLETA
O Borboleta? Também eu me
interroguei.
Porque é que o rapaz se havia de
chamar Borboleta.
E mais me interroguei por lhe
chamarem também Passarinho e, muito mais surpreso fiquei quando alguém me disse
que tinha mais uma alcunha, Passarinha.
Quando alguém me disse? Esta é de “cabo de esquadra” porque ninguém
mo disse.
Certo é, de olhos fechados,
quando não se vê ninguém e falamos com tanta gente, senhores de toda a
liberdade do Mundo, imaginamos.
Idealizei o Borboleta, vi o
Borboleta, dialoguei com ele.
Naquele dia estava simpático e
conversador e começou a contar-me a sua história.
A História
- Plínio, desculpa mas eu não te posso tratar por tu, não te conheço e
não quero falar contigo sem te ver, - disse-lhe com algum receio.
- Trate -me por tu, sei que lhe dá mais jeito e não abra o olho, - e
continuou, - no meu tempo, no tempo do
respeito, os homens tratavam os rapazes por tu e os rapazes tratavam os homens
por vossemecê.
Esta frase soou-me como uma
ordem, confundiu-me e indigno-me - quem será esta criatura ou quem se julga ser
para me dar esta ordem? - pensei, de mim para mim.
- Se abrir os olhos esfumar-me-ei como fumo da lenha de sobro -
implorou-me.
Não pude dizer que não e, temporizando,
continuei o diálogo.
- No teu tempo, Plínio? - mas de que época és tu? - interroguei-o.
- Da época do seu avô? - disse-me com rapidez.
Comoveu-me, quem não se comove,
na idade da saudade, ao ouvir falar dos entes queridos? Os meus olhos
humedeceram.
A conversa começara a
interessar-me. Far-me-ia recordar o meu avô de Terena ou do Alandroal. Iria
regressar à minha infância, nalgumas recordações relatadas pelo Borboleta.
Sem querer agitei-me. Plínio
notara-o e voltou-me a dizer-me - se
abrir os olhos eu desapareço.
Não havia dúvida, Plínio tomava
conta de mim, conduzia-me aonde ele bem queria, como alguém que conduzisse um
animal. E eu agradava-me aquela condução, estava a sentir-me bem, era, por
estranho que pareça, um cego que lhe agradava não ver.
A determinada altura disse-me - esta é a história da minha adolescência e da
minha meninice, morri cedo.
- A tua história é trágica, Plínio? - perguntei-lhe ansioso.
O começo
Plínio silenciou-se por momentos,
olhei para ele e vi que se concentrara.
Respeitei o seu silêncio e
esperei que começasse a contar a sua história.
- Esta foi a mais linda coincidência com que me deparei após a minha
morte.
O senhor pensou num rapaz
chamado Borboleta e eu apareci para contar a minha história. O seu sonho foi a
minha realidade, - interrompi-o.
- Plínio, não te estarás a aproveitar do meu sonho? Não estarás a
roubá-lo a minha imaginação?- mesmo dizendo isto com toda a brandura do
mundo, pensei que o rapaz se iria zangar.
- Não, - respondeu sem
alterar a voz, sinal que não se zangara, e continuou.
- Com o decorrer da minha narração verá que os fatos de que falo são
verdadeiros.
- Também te chamavam Passarinho? - perguntei.
- Sim, foi a minha primeira alcunha, - respondeu-me e explicou o
porquê.
A primeira explicação
- Nasci de uma família que se podia chamar de remediada.
Ao nascer a minha mãe não conseguiu criar leite durante uma semana e
durante esse tempo foi amamentado por duas parturientes.
Quando a minha mãe teve leite encontrava-me muito débil, mesmo sendo
depois alimentado a leite de cabra e de vaca. Apesar de todos os esforços dos
meus pais não consegui ter meninice igual aos outros rapazes Não medrei.
Quando veio a escola, aprendi sem nenhuma dificuldade, mas nos jogos e
apesar da minha vontade e coragem ficava sempre entre os últimos.
Sucedeu assim com o jogo do “avincão” “abelharda”.
Não perdi a coragem e tentei a bola, onde me refugiei a guarda-redes.
Nem nas bolas rasteiras, nem nas bolas altas tinha dificuldade. Bastava
dar-lhe um jeito, para que a bola, com a força que trazia, tomasse efeito e não
entrasse na baliza.
Um dia ao encaixar uma bola, que vinha com muita força, fui parar
dentro da baliza, encostando-me às malhas traseiras.
Os meus companheiros chamaram-me
”menina de leque”, outros de Passarinho. Pegou o Passarinho.
Assim me explicou, o rapaz, como
apanhou a alcunha de Passarinho.
A explicação de Passarinha
- Refugiei-me no jogo da semana e do hidroavião.
Era leve e rápido. Depressa me adaptei ao jogo. O meu jeito, um pouco
afeminado, dava-me uma certa graciosidade ao jogar.
Este jogo era atribuído às meninas e logo alguns rapazes me começaram
a chamar de Passarinha.
Devo-lhe confessar senhor Helder, - mais uma vez o interrompi. Senhor Helder? como descobriste o meu
nome, Plínio?
- Entrei no seu imaginário. Foi fácil uma vez que o senhor já tinha
idealizado as minhas alcunhas, - justificou-se e eu concordei.
- O imaginário é um mundo onde cabemos todos, basta sabê-lo utilizar.
Plínio pareceu sentir o efeito
desta frase, entristeceu-se e sentou-se numa laje que pela sua frieza mais
parecia um bocado de um iceberg.
Levantou a vista e encarou-me
retomando a frase.
- Confessou-lhe que foi aqui que comecei a ser um sonhador ou um
realista, conforme se entenda. As raparigas adoravam-me e confiavam-se
O meu pai cedo me confiou algumas tarefas de menor responsabilidade,
parecia que toda a gente gostava de mim, - era um desabafo, uma amargura
a denunciar um revés de vida e continuou sem alterar a voz, - depois apareceu a Maria Pulquéria.
A terceira explicação
- A Maria Pulquéria era a menina mais bonita da escola.
Cabelos louros que logo pela manhazinha e banhados pelo Sol outonal
ou primaveril brilhavam como ouro. Olhos azuis irrequietos e cintilantes.
Corpo escultural, curvilíneo, adorável. Cedo fixei a sua imagem recordando-a
sempre quando não estava comigo, - pensei em interrompe-lo, mas preferi
deixá-lo continuar - não gostei de mais
ninguém, - conclui no mesmo tom magoado.
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- Plínio gostava de ouvir a tua história amorosa completa, -
pedi-lhe.
- Com todo o gosto Amigo, - Amigo?, - deixei escapar surpreendido.
- Amigo, sim senhor Helder, - reforçou Plínio, comovendo-me uma vez
mais.
- As pessoas que sabem escutar, que nos dão atenção, que vivem os
problemas de cada um, só podem ser Amigos.
- Por favor, Plínio, mesmo no imaginário onde nos encontramos
poupa-me à comoção, aliás, já não sei se este diálogo é uma conversa de vivos
ou de mortos, - disse isto denunciando alguma ansiedade, que não escapou
ao meu interlocutor.
- Que importância tem no ambiente em que nos encontramos, estarmos
vivos ou mortos. O senhor está de olhos fechados, mas vivo e a julgar-se já
morto, e eu de olhos abertos, morto a fingir-me vivo.
O grau de relatividade é o mesmo para ambos, - e continuou
- Há entre nós uma razão e duas verdades, - Plínio pronunciou esta
frase com uma voz assustadora, parecia divina e ordenou-me.
- Escreva um 6, - escrevo um
6, sem papel, sem caneta, nem
lápis e de olhos fechados, - disse surpreendido.
- Escreva na atmosfera, ainda está vivo, - ordenou-me com a mesma
voz, mas ainda mais acentuada, que me levou a pensar que eu não iria sair
vivo deste imaginário.
- O senhor escreveu seis e
eu do lado oposto leio nove. Se
trocarmos de lugar a leitura é invertida, mas a algarismo é a mesmo e só um,
provocando duas interpretações, duas verdades. Os Homens justos nunca fogem à
razão que se alcança dos factos observados. A razão é eternamente imutável.
Depois respirou com alguma
dificuldade e o seu rosto teve uma pequena mas bem visível transformação.
- Estou cansado. Os mortos
quando trabalham e se comovem, também se cansam.
Descansamos uns minutos - disse-me com uma voz de agradável
audição, que me tranquilizou.
Com a decorrência da conversa
Plínio surpreendia-me a cada momento.
Dissera-me que morrera cedo e
demonstrava-me uma experiência de vida invulgar, própria de quem vivera uma
eternidade.
Mesmo com os olhos fechados vi
o rapaz adormecer deitado na laje que não parava de escorrer água. O corpo do
Plínio estava abrasando.
Sem abrir os olhos adormeci.
A alcunha Borboleta.
Plínio ao acordar parecia outra
pessoa. O seu corpo depressa alcançou a naturalidade de um ser vivo e começou
a falar da Maria Pulquéria, da sua amada.
- Pela leveza e rapidez que eu me entregava no jogo da “semana” começou
a chamar-me Borboleta. Se já me agradava estar perto das raparigas devido ao
jogo, mais me agradou a alcunha vinda da Maria Pulquéria, - Plínio
contava-me isto, completamente refeito do cansaço. O sono restabelecera-o e
eu refresquei-me um pouco, parecendo sair do estado mórbido em que já me
julgava encontrar.
- Vejo que és um romântico e com a tua grande capacidade de inteligência,
conseguias superar as deficiências do teu corpo. Admiro-te por essa
capacidade.
Ao ouvir estas palavras Plínio
só sorriu.
- E a escola Plínio?- perguntei-lhe de chofre.
O tempo da escola
- Foi o começou do meu calvário, da nossa tragédia, - disse-me
com uma voz tão magoada que me deu pena.
- Eu e a Pulquéria éramos os melhores e ao mesmo tempo os piores
alunos da classe, quando chegavam os exames não passávamos, - interrompi-o.
- Como é que isso podia, acontecer, Plínio? enervavam-se?
- Não, fazíamos a propósito, - disse-me com um sorriso triste nos
lábios.
- De propósito? - mas isso foi possível.
Com ar tranquilo foi
descrevendo a sua aventura, contou que o namorico com a Maria começara com
uns sorrisos e troca de olhares. Depois começaram a falar até que as
desconfianças, as más-línguas os descobriram.
Ela era das da aldeia das
Hortinhas o que dificultava a nossa relação. Decidimos, apesar de vigiados,
chumbar nos exames, assim estaríamos mais tempo ao pé um do outro.
- Claro, duplicavam o tempo e, no último ano de exame como foi? -
perguntei.
- Não houve exame. Tínhamos a certeza que após o exame nunca mais nos
veríamos. Na véspera do exame da quarta classe, já com quinze anos feitos,
devido ao atraso do carreiro que vinha buscar a Maria e trocando as voltas à
professora, consegui dar-lhe um escrito.
“Estarei à uma da manhã
junto à cabana das bestas, vê se podes lá estar. Toma cuidado com o cão para
que não ladre e procura não fazer barulho”,
- E ela foi?
- Sim tinha a certeza que não faltaria. Deu-se um imprevisto. Naquela
noite, ou porque tivéssemos tido, pela primeira vez relações sexuais ou
porque lhe apareceu a menstruação, ela sentiu dores horríveis e teve fortes
hemorragias
Levaram-na a um médico
- Imagino o sofrimento, o teu e o dela, Plínio.
- Foi grande e doloroso, com o psíquico a sobrepor-se ao físico, mas
durou pouco tempo. - ao dizer esta frase o rapaz baixou a cabeça e
começou a dar, novamente, mostras de cansaço.
- Ela morreu? - perguntei com ansiedade.
- Morreu ao sétimo dia de entrar para o Seminário e eu morri no dia do
seu funeral.
O funeral
- Decorria o mês Fevereiro, com fortes e frias chuvadas. Tive a
sensação que algo diferente e anormal se iria passar comigo. Parecia que o
mundo me caía em cima, toda a gente me apontava o dedo “foi ele” “foi ele que
a matou”.
Mas há sempre alguém, há sempre uma alma que nos compreende, que nos
estende a mão, um benfeitor que nos ajuda.
- E quem foi esse alguém, Plínio? como te ajudou? - perguntei-lhe
com o intuito de o fazer sair um pouco do seu estado melancólico.
- Foi o meu avô. Levou-me alimentos ao quarto, de onde só saí no dia do
funeral. Consolou-me dizendo “violaste o tempo do respeito, não por roubares ou por ser mal-educado
ou dizeres mal das pessoas, foi por amor, pelo amor de uma flor ainda em
botão, que no dia em desabrochou, morreu. Nunca serás condenado pelos homens
de boa vontade”.
- A vossa história é a mais linda história que ouvi contar, é
comovente, acredita que um dia a tentarei escrever, - Plínio levantou a
cabeça, o seu rosto alegrou-se um pouco, sorriu de mansinho. Um sorriso de
quem é compreendido, um sorriso de gratidão. E continuou.
- Fui cedo para o cemitério para assistir ao funeral. Meti-me dentro de
uma cova e tapei-me com um pano preto. Pareceu-me ter morrido por momentos,
ser condenado por um sem fim de mãos. Naquele mar ameaçador e tumultuoso de
acusações, emerge a mão salvadora, benfazeja, triunfante. “vem neto,
tenho um esconderijo melhor do esse, o meu capote, ele te abrigará e te
conduzirá ao caixão da tua amada” e assim sucedeu.
Quando abriram o caixão, precipitei-me e dei dois beijos na Maria
Pulquéria, ao mesmo tempo que o meu avô gritava “revive Maria, revive” e a multidão insensata, incapaz de nos
compreender, respondia “matam-se, matam-se”.
O capote do meu avô pairou pelos ares, abriu caminho por entre a
multidão, enfurecida e fugimos.
Não sei se corri se voei, e
sem querer, vi-me na ponte velha observando a água que corria impetuosa,
parecendo procurar alguém.
Num barulho aterrador que parecia a queda de um corpo nas profundezas
da terra, ouvi a voz da Maria Pulquéria dizer “salta Borboleta, salta”.
Levantei a vista e vi uma borboleta multicolor esvoaçar sobre a minha
cabeça, tocou-me na cara parecendo beijar-me. Ao tentar agarrá-la caí à água.
- E morreste, - perguntei.
- Morri, - respondeu e continuou.
- Hoje dia 18-09-2012, às 2 horas da manhã partilhando este
imaginário consigo, já duvido que esteja morto.
- Por favor Plínio, há pouco foi eu que estava confuso agora és tu
que te estás a confundir. Tu estás morto. Os cento e cinquenta anos que nos
separam não impediram esta conversa de comunhão e compreensão imaginativa,
mostrando ao mundo, que o amor é o mais belo sentimento de ligação humana,
mas começo a sentir cansado, por favor Plínio, deixa-me descansar um pouco,
deixa-me abrir os olhos, - pedi-lhe suplicando.
Senti um forte abraço, senti o
coração do Plínio a bater forte, senti o calor do seu corpo.
Ao contar a sua história Plínio
reviveu.
Quando abri os olhos, mas ainda
mal vendo e mal refeito das emoções, vi uma borboleta esvoaçar e sumir-se no
horizonte, como o fumo de sobro a arder.
Já com vista clareada vi, em
cima da minha secretária, o texto que vós estais a acabar de ler. A tragédia
da Maria Pulquéria.
Helder Salgado
18-09-2012
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Tuesday, July 24, 2012
CASTELO DO ALANDROAL VII SÉCULOS
Al Tejo continua a
homenagear a memória do Vicente Roma.
Depois de lhe
transcrevermos = O USUFRUTO DE UM CASTELO POR UMA POPULAÇÃO – O CASO DO CASTELO
DO ALANDROAL E DA VILA DO ALANDROAL – inserido no Livro Castelo do Alandroal
VII Séculos, (e que a partir de agora pode ler na integra no Blogue AL SUL
- http://alsul.blogspot.pt/ – vamos
passar a transcrever: O CASTELO DO ALANDROAL E DOIS ALCAIDES CANTADOS NOS
LUSÍADAS
A importância
conferida por Fernão Lopes na Crónica D. João I a Pêro Rodrigues, o Alcaide do
Alandroal com papel decisivo na Crise de 1383/85
Chico Manuel
O
Castelo do Alandroal e dois Alcaides cantados nos Lusíadas
A importância
conferida por Fernão Lopes, na crónica D. João I a Pêro Rodrigues, o Alcaide do Alandroal com papel
decisivo na crise de 1383/85
O cronista Fernão Lopes, na sua famosíssima Crónica de D.
João I, cita tantas vezes o Alandroal que o historiador José Hermano Saraiva
diz, num pequeno estudo que antecede uma das edições da obra que «depois de
Lisboa, é o Alandroal, uma obscura vila do Alentejo, que mais vezes é
referida». À parte as adjectivações, não deixa de ser sintomática a
constatação.
Tem um honroso lugar de destaque na Crónica, Pêro Rodrigues,
Alcaide do Castelo de Alandroal por altura da crise de 1383-85: Nove capítulos
precisamente do 97 ao 105, referem as vicissitudes porque passa o alcaide e a
população, os ataques de Castela, as traições dos vizinhos, a solidariedade de
e para com os amigos, a sua indefectível lealdade para com o Mestre de Aviz e o
Condestável Nuno Álvares Pereira por entre as tergiversações de outros.
O Alcaide nunca os desilude ainda que arriscando a vida, a
sua chefia, isto é, não decide sem ouviras opiniões dos seus capitães que
chefia, mas assume a total responsabilidade pelas decisões que toma. É aquilo
que hoje se chama líder democrático, sendo certo que também era carismático,
atributos nem sempre fáceis de encontrar nos líderes de ontem e de hoje,
É justo na repartição dos despojos e desapegado em relação
aos quinhões que lhe cabe como comandante, prescindindo dele e repartindo-o
pelos mais necessitados ou anteriormente prejudicados de modo a ressarci-los. É
estratega brilhante que inspira e faz inspirar confiança a D. João. A Nuno Álvares, aos seus
conterrâneos e aos vizinhos e põe em rspeito o inimigo porque, no Alandroal,
apesar de apenas armados com estevas aguçadas – todos aqueles a quem não era
possível distribuir verdadeiras armas , - tanto
corriam os de pé como os de cavalo . Gere com parcimónia mas com sabedoria
os escassos recursos humanos e materiais de que dispõe (a escassez de meios é
evidente se comparada, por exemplo com as possibilidades de Vila Viçosa e de
Olivença).
A relevância dada por
Luís de Camões n´Os Lusíadas a Pêro Rodrigues
Como é sabido, a Crónica de D. João I de Fernão Lopes serve de fonte para os
Lusíadas de Luís de Camões. Este dá grande relevo a Pêro Rodrigues e ao
Alandroal, cantando a valentia, a esteoutro capitão de pouca gente , dedicando-lhe
na totalidade , a estância 33 do Canto VIII do seu Poema Épico, cujo último
verso diz; Pêro Rodrigues é do Landroal.
Na mesma guerra vê que
presas ganha
Estoutro capitão de
pouca gente;
Comendadores vence e o
gado apanha
Que levavam roubado
ousadamente.
Outra vez vê que a
lança em sangue banha
Destes, só por livrar,
co amor ardente,
O preso por amigo, o
preso por leal;
Pêro Rodrigues é do
Landroal.
Os Lusíadas, canto VIII,
estancia 33
Mais tarde, outro Alcaide
deixará o seu nome indelevelmente ligado à História pátria, não tanto pelos
feitos aqui feitos - os tempos eram outros, não já de defesa do solo pátrio mas
de alargamento do império – mas pelos desenrolados em terras do longínquo
Oriente onde nos perdemos e nos achámos. De seu nome Diogo Lopes de Sequeira,
na senda de Lopo Soares de Albergaria, a quem sucedeu, e de outros, este
Governador da índia, o quarto, tal como o seu antecessor, alcaide do Alandroal,
Pêro Rodrigues, arremete contra inimigos, não já de Castela, nem já para
defender o solo pátrio ou a independência, mas para
alargar a fé e o império em terras da Ásia, de Goa até Malaca.
Camões não esquece no seu
poema épico:
Também Sequeira, as ondas Eritreias
Dividindo, abrirá novo caminho.
Para ti, grande Império, que te arreias
De seres de Candace
e Sabá ninho.
Maçuá com cisternas de águas cheias,
Verá, e o porto Arquico ali vizinho;
E fará descobrir remotas Ilhas,
Que dão ao Mundo novas maravilhas
Os Lusíadas, Canto X, estância
32
Diogo Lopes de Sequeira regressa ao Alandroal e aqui
morre e é sepultado, em campa rasa, na Capela de Nossa Senhora da Conceição,
para a qual traz uma imagem da Virgem, feita na Índia, em tempos muito
venerada, a qual até há pouco tempo integrava as procissões dos Passos e do
Enterro do Senhor nas cerimónias da Semana Santa.
Os nomes de Diogo Lopes de
Sequeira e Pêro Rodrigues integram a toponímica local resistindo à avalanche de
nomes sonantes da Primeira Republica que destronaram nomes ilustres da
História.
O mesmo acontece com D. Nuno
Álvares Pereira que dá o seu nome a uma das tais ruazinhas que escorrega do
Castelo para as baixas da vila. Mas o mesmo já não acontece com D. João I, O
Mestre de Aviz, que teve nome de Rua até há duas dezenas de anos e que a Câmara
Municipal do Alandroal entendeu substituir pelo de um médico ilustre desta
terra, de seu nome Manuel Viana Xavier Rodrigues, sem que ao menos mantivesse a
referência ou lhe t ao nome antigo ou lhe tivesse encontrado outro espaço
merecedor. Não estando em causa a justeza da homenagem ao médico e
impulsionador dos estudos pós-primários no Alandroal, está bem de ver, trata-se
de uma lacuna que facilmente se resolverá, estou certo disso, mas é preciso
lembrá-lo aqui e agora, tanto mais que o Castelo do Alandroal pertenceu à ordem
de Aviz.
Uma revisão da toponímia que
é urgente fazer no Alandroal deverá equacionar estes e outros aspectos da
História, identificadores de identidades culturais locais e ilustradores também
para quem nos visita, sobretudo numa altura de incremento da fileira de turismo
que o Alandroal pode oferecer.
Ainda a este propósito bem
parecia, e à História far-se-ia justiça, que o nome de D. Dinis, o nosso Rei
Lavrador, que o Castelo mandou construir, figurasse em artéria condigna do burgo.
Voltando ainda aos dois
Alcaides que nos tem ocupado, registe-se com agrado que o antigo Externato do
Alandroal, escola de ensino particular que desapareceu naturalmente com o
advento do ensino oficial a nível
pós-primário, já depois de 25 de Abril de 1974, tinha o nome de
Externato Diogo Lopes de Sequeira e que tal nome transitou para o do Patrono da
Escola Oficial, neste momento existente, por proposta de antigos alunos daquele
colégio.
Quanto ao nome de Pêro
Rodrigues, foi título de um jornal local que, não obstante ter deixado de ser
editado no Alandroal porque o seu proprietário, editor e director se mudou para
Évora, não perdeu contudo o nome, enquanto se editou em Évora.
Também um clube de Futebol
existiu no Alandroal que adoptou o nome de Pêro Rodrigues.
Se tudo isto se refere, é para
sublinhar a tal ligação umbilical das gentes com história pátria e local que,
bem entendido, nem todos os Alandroalenses – diria até só muito poucos –
conhecerão.
Com efeito, teria que ser
sobretudo a escola a trazer à luz este passado submerso.
À guisa de conclusão e um atrevimento prospectivo
A perspectiva subjacente a
esta comunicação foge ao escopo histórico. Não sendo o seu responsável
historiador, mas sin sociólogo, ainda assim teve o atrevimento de corresponder
positivamente a um convite de colaboração na série de comunicações em boa hora
promovida pela Junta de Freguesia de Alandroal e pela Câmara Municipal de
Alandroal, sob o pretexto das comemorações do sétimo centenário da edificação
do Castelo da vila do Alandroal.
Desde logo assistiu-nos o
entendimento de que quaisquer comemorações da existência de um castelo não se
esgotariam no seu enquadramento histórico, ainda que rica fosse a sua história,
e a todos os títulos merecedora fosse de adequada investigação, divulgação e
até vulgarização,
Os castelos são - ou deveriam
ser – elementos do património edificado vivenciado e não temporalmente
cristalizado: Isto é, os castelos deveriam ser um local de culto e de cultos e
não um comum amontoado de pedras
intocável que apenas nos dizem que por ali passou história, sem se saber
qual, mas não nos mostram a
(con)vivência das gentes que, ex ante, foram
a razão de ser da sua edificação e, ex
post, o seu sustentáculo vivo.
Há castelos que existem por si
com o deserto à volta. Há castelos que coexistem com a sua verdadeira razão de
ser: a população que sempre os amparou e se manteve sob a sua proteção tutelar.
O caso do Castelo Do
Alandroal é paradigmático no que diz respeito à simbiose população-castelo ou,
se quisermos – e não se entenda isto como um mero jogo de palavras castelo-
população. E porquê? Porque não sendo, não tendo sido, a vila do Alandroal uma
vila acastelada, no sentido de que a sua população estaria concentrada adentro
do acastelamento, o Alandroal é sem dúvida, o exemplo perfeito de um aglomerado
populacional envolvente de uma fortificação que perdendo embora, como todas, a
função estratégica de defesa militar tout
court
Terá ganho a função
estratégica, também ela, de manutenção
populacional de uma comunidade.
Parece-nos que este aspecto é
singularmente importante. Pelo menos durante sete séculos uma população viveu
aqui neste lugar, sem altos e baixos demográficos significativos em termos
relativos. Quer isto dizer que a evolução demográfica da vila do Alandroal
acompanhou a evolução registada no meio, apenas sofrendo os traumatismos,
positivos e negativos que outras povoações também sofriam e não qualquer efeito
positivo ou negativo peculiar.
O que distingue a vila do
Alandroal e é objecto de interesse, é que, situando-se nos limites mínimos, ao
contrário do que seria de esperar, soube mantê-los, não perdendo importância
administrativa, consolidando a importância económica, sem grandes
desenvolvimentos, é certo - mas também
nunca os teve – e preservando a idiossincrasia cultural que é sua, tendo sabido
compreender o que se passa para lá dos seus limites de vila, entendendo as peculiaridades
do concelho de que é capital, sem atitudes auto ou heterofágicas, mau grado as influencias sempre exercidas
pelos concelhos limítrofes que tendem a esmagar a economia, a visibilidade e a
notoriedade da vila e do concelho de Alandroal
O que é que isto tem a ver
com o Castelo? Provavelmente nada. O que muito modestamente se pretende revelar
é que a ordem natural das coisas teria remetido o Alandroal para o seio das
micropulações, hoje deificadas, com o seu castelo feitiche- mas nem
isso por isso deixando de ser cristalizadas, económica, social e
culturalmente – que, se nos é permitida a citação, hoje muito conhecida através de Herman José, não passam de vilas
com seu castelo altaneiro. Esta não.
A oportunidade para discorrer
sobre o Castelo do Alandroal no ano em que comemora os sete séculos, ademais
numa perspectiva não histórica ou, se quisermos numa perspectiva não
predominante histórica, remete-nos, quer queiramos quer não, para análise sobre
o status quo
actual no que ao castelo diz
respeito e, por extensão, ao Alandroal, vila e concelho.
Apenas uma simples reflexão
susceptível de induzir análises prospectivas que inexoravelmente terão que ser
feitas a breve trecho, sob pena de se perderem oportunidades como se têm vindo a
perder.
O concelho do Alandroal tem
três vilas cada uma com seu castelo: Alandroal, Terena e Juromenha. Aqui há
alguns anos, tive oportunidade de propor informalmente à Câmara Municipal uma
espécie de slogan promocional para a
vertente histórica que seria precisamente este: Alandroal – Um Concelho, três
Castelos.
Tenho verificado que continua
a ser adaptado, com alguma timidez, é certo, e que a ideia tem pernas para
andar,
Haveria que proceder a estratégias
consistentes, sistemáticas e oportunas no sentido de conseguir dar maior
visibilidade e notoriedade ao concelho do Alandroal.
Este aspecto, para lá de
atrair atenções do exterior, contribuiria para dar mais consistência a
estratégias de coesão interna dos alandroalenses, lato sensu, isto é, dos que
habitam a vila e o concelho. Considero este aspecto muito importante: os
alandroalenses têm que sentir orgulho da sua terra e acreditarem em si próprios. Talvez o grande
mérito do conhecimento do passado e o aproveitamento dos seus vestígios
materiais e espirituais seja o de contribuir exactamente para isso. Todavia,
nada se fará sem o respeito pelo que existe. E neste aspecto muito haveria que
dizer sobre a incúria dos homens com responsabilidades, ao longo dos anos,
nesta to que ser discutidas –: não é aqui nem agora o momento para o fazer. É
apenas o momento – porque o tempo urge – de lançar o repto para uma futura
discussão – porque estas coisas têm mesmo que ser discutidas – sobre as
inadiáveis tarefas que é urgente levar a cabo no sentido de. Primeiro: preservar,
com esmero, o que se tem: segundo: potenciar, com inteligência, o património, o
edificado e o outro, aquele que não se vê e que menos resiste à erosão da
ignorância, mas no fundo o mais importante, e que mais depressa e mais
facilmente, se perde numa sociedade mediatizada e num mundo globalizado que
tende para as unificações de novas culturas emergentes, com impactos negativos
na idiossincrasias próprias; terceiro: associar tudo isto ao crescimento
económico e ao desenvolvimento sócio cultural endógenos.
A grande virtude do Alandroal, se me é permitida esta
análise, resulta não tanto do que tem sido feito ao longo de séculos, mas,
paradoxalmente, do que não tem sido feito. É neste marasmo de dolce far niente que tem vindo a
conservar uma vila que corre o grave
risco de ser apenas pitoresca. Durante anos pouco se fez, daí que não se tenham
cometido muitas asneiras. No último quarto de século, as mudanças aceleradas
que têm caracterizado a sociedade portuguesa, não tendo os impactos negativos
por acção que se verificam noutros sítios têm tido repercussões negativas por
omissão. Pouco ou nada se tem feito para dignificar o património, em particular
o Castelo, no fundo e centro da razão de ser desta conversa e, obviamente, a
envolvente arquitectónica e urbanista..
Os alandroalenses, todos, mas em particular as entidades,
têm obrigação de não só não delapidar ou não permitir que se delapide, a
herança cultural, mas sobretudo, de legar às gerações vindouras a valorização
do que receberam, já que elas, quer queiramos quer não, a todos julgarão.
Talvez a grande referencia, ainda e sempre seja um simples Castelo mais a
comunidade que o envolve.
Vicente Roma
Friday, July 13, 2012
A SECRETÍSSIMA TRINDADE
SIED - Seviço de Informação E Desinformacão
A Secretíssima Trindade –
ministro, espião e muito mais
Um caso de jornalismo
intempestivo pôs um ministro e um espião em rota de colisão… isto é… confusão.
E como quem conta um conto acrescenta um ponto, o caso gastou rios de tinta e
resmas de papel nos jornais do princípio do século. Principalmente à época, um
tal CM (Correio Mór) fez as delícias da populaça com apetências mórbidas para
histórias vampirêscas, casos de adultério (vulgo cornos), corrupção e intriga
política, condimentadas estas, regra geral, por clichés das anteriores.
Caro leitor, nada do reproduzido
é actual (ou atual)! Apenas o espírito humano permanece imutavelmente
depravadíssimo.
Capítulo I: O Almocinho
-Sim…, estou!
«Boa tarde Dr. Elvas…, é o
George.».
-George quê pá?
«George da Ongoering Dr.».
-Ah!... como está o meu amigo…,
isto não é perigoso pá… estar a contactar-me por telemóvel pá… eles até o
Cavaquinho Silverado escutam em Bérrém…
«Dr…, deixe isso por minha
conta…, está tudo sob controle».
-Sendo assim…, em que posso ser
útil ao meu amigo pá?
«O patrão Bruno Mausconselhos
encarregou-me de lhe fazer um convite para um almocinho de trabalho… nós aqui
na Ongoering trabalhamos também durante a hora de almoço…, brqrtrfrvr…»
-Estamos sempre abertos a esse
tipo de iniciativas: um almoço de trabalho…, contém comigo…, trabalho é comigo…
é do que este país mais precisa… gente trabalhadora… (como nós…, pensou em voz
alta o Dr. Elvas).
George Cara de Pau desligou o telemóvel dando aos lábios um trejeito
semelhante a um disfarçado sorriso, pois o agente toupeira, ou sobespião, nomes
porque também é conhecido no milieu das secretas, nunca sorri.
«Por esta é que o Mausconselhos
não está à espera…, vou sentar-lhe na mesa da sala Tojo o chefão-mor do próximo
governo do Passos Perdido… (o agente toupeira teve que morder com afinco os
lábios para não soltarem uma estridente gargalhada). E foi a cismar num mais
que justificado aumento do pré que George Cara de Pau deu três afinados toques
na porta do gabinete do chairman da Ongoering… e entrou.
Mausconselhos estava a tratar a secretária do gabinete, Liz Boa, que
se posicionara em cima da secretária de “pau santo” do patrão, que não havia
meio de se despachar, vindo ainda a assistir, o sobespião, ao arranjo da
compostura de ambos.
-Porra meu irmão…, essa mania que você tem de bater e entrar logo de
seguida tira-me do sério…, isto aqui não são os “serviços secretíssimos” onde
não há segredos para ninguém, onde cada qual sabe da vida de todos e todos de
cada qual!
Babyfaca, outro “heterónimo” do sobespião, fez jus ao apelido de Cara
de Pau, e tomou a seguinte nota no seu telemóvel: o patrão “come” a secretária
do gabinete que usa cinta de ligas e meia de lycra transparente… e pelos vistos
gosta à doggystyle… brqrtrfrvr…; enquanto o diabo esfrega um olho, a nota solta
foi arquivada na secção “manias e
depravações do patrão da Ongoering”.
-Já agora gostava de saber
porque interrompeste o meu momento de ginástica de pausa, sem te ter chamado…,
meu irmão espero que seja secretíssimo segredo de estado…, gritou, fora de
si, o Ongoering man.
«Ó boss, adivinha quem vem
almoçar?»…, os olhinhos de Mausconselhos rodopiaram nas órbitas ao
adivinhar a visita para o repasto…; «esse
mesmo meu irmão e patrão do coração… o Dr. Elvas pessoalmente», rematou
George Cara de Pau.
-Então quer dizer que temos o
Balsepé na mão…, Balsepé na mão?..., isto não me soa bem, rematou Bruno
Mausconselhos enquanto desamarrotava as calças da ginástica de pausa.
O almocinho, propriamente dito, bem comido e bem regado, onde se soube
a marca da caneta com que Ricardo Aposta escreve os seus perigosos artigos no
Expressamente Jornal (Monte Branca), terminou com uma frase lapidar do Dr.
Elvas: -meus irmãos vamos ver o que posso
fazer pá…, ou desfazer pá!
Mal sabia o Dr. Elvas que, durante o almocinho na sala Tojo, o agente
toupeira mandara os seus pupilos do serviço secretíssimo fotografar o seu pópó,
matrícula incluída, e decorá-lo nos interiores com dois potentes e invisíveis
aparelhos de TV Audio.
Capítulo II: Estou Ministro
-Está lá queriiida…, está lá?...
O Dr. Elvas não consegue ouvir bem a mulher, pois um besouro de fundo
corta as palavras.
-Vai para o meu escritório amor… talvez consigas
ouvir melhor… aí costumo ter boa rede – não desconfia o Dr. Elvas que duas
potentes e invisíveis atenas audio dão uma ajudinha na rede local.
«Sim querido… agora ouve-se como
se estivesses aqui». Dona Elvas esperava ansiosa aquele telefonema do
marido… para lhe comunicar que sim…, que sim…, já estás ministra fofinha. O
marido tinha toda a legitimidade em acreditar na sabedoria popular, que
confirma: mulher de ministro é ministra!
-Estou ministro querida…, amor…
ducha…, eheheheheheheh!..., ministro não… superministro pá!!!
«Mas o Passos Perdido manda mais
que tu filho!… ele é o nosso PM» - saiu da boca de Dona Elvas um gritinho
histriónico directo à bochecha nadegueira do marido.
-E quem manda no Passos
Perdido?... quiduchinha…, quem é?… diga lá amor: moi même…, je…
«Ó Krido Kridinho…, tenha
cuidado com a conversa… dizem por aí que um tal agente Cara de Pau anda a
escutar Portugal inteiro…» Dona Elvas disse o que disse com a voz mais
maternal deste mundo.
-E porque julga a minha menina
que eu estou a falar em francês?... esse agente Cara de Pau tirou um cursozeco de
línguas técnicas nas Novas Oportunidades…, num domingo de manhã!… Bom…, bom…, mas agora quem manda sou eu…, o
Passos Perdido é chefe do governo e o Dr. Elvas é chefe do Passos Perdido… ip
ip urra… ip ip urra… áferriá…, áferrié…
«Não venha tarde maridinho…, cá
em casa hoje há jantar e ceia reforçados ihihih…» - rematou Dona Elvas ao
desligar a bomba que tinha entre mãos.
Dizem que Quentin Tarantino veio a Portugal inspirar-se para
o seu primeiro filme Kill Bill. A fama do SIED (Serviço Informação E Desinformação)
chegara a Hollywood e os agentes da Secretíssima portuguesa poderiam lançar
pozinhos de inspiração, quer nas cenas de artes marciais, quer nas técnicas de
disfarce e vigilância utilizadas pelo Serviço de espiões mais hermético do
globo. O próprio Serviço de Sua Majestade Britânico MI6, sondado sobre o
assunto, teria aconselhado Tarantino na aventura portuguesa, já que o chefe da
Secretíssima, George Cara de Pau, era conhecido, no mundo do “virar do avesso a
vida alheia”, como “o espião dos espiões”.
Verdade, ou não, eis um segredo guardado a sete chaves nos cofres da Informação
e Desinformação Lusa.
É velhinho o ditado: o segredo é a alma do negócio.
Capitulo III: Na vanguarda da comunicação – Clippings e SMS
Pelo sim, pelo não, o
Dr. Elvas, a caminho da sede do PI (Partido da Irmandade) onde vai ditar ao PM
Passos Perdido as boas peças do emergente governo, telefonou ao agente de
segurança do seu gabinete (ainda sombra) para que pusesse a limpo o posto de
trabalho do tal George Cara de Pau, que lhe inundara, nesse mesmo instante, o
telemóvel ministerial com uma catrefada de SMS
(Sofisticados Meios Secretíssimos) e Clippings
(palavrão usado na gíria da
espionagem…, sem tradução, mas com o
sentido de “o que escorre é o melhor”) com nomes de mercados futuros para
os serviços secretíssimos.
O Dr. Elvas
recorda-se, como é óbvio, do almocinho de negócios na sede da Ongoering…, e da
irritação que lhe assomou ao semblante quando esse Cara de Pau o tratou por tu
sem pedir, ao menos, licença. O suor encharcou-lhe o lenço branco com que Dona
Elvas enfeitara o bolso superior do casaco do marido, ao reproduzir mentalmente
a voz da esposa através do telemóvel: «…um
tal agente Cara de Pau anda a espiar Portugal inteiro»!
-Ó Jácomo…, você faça uma revisão aos interiores do meu
automóvel…, para não termos surpresas desagradáveis com os da comunicação
social, que gostam de meter os olhos e os ouvidos onde não são chamados…,
compreendeu(?)
«Sim senhor ministro», respondeu Jácomo assertivamente, lançando um sorriso invisível
no espelho retrovisor. Se o senhor ministro o tivesse detectado, talvez ficasse
de pés e mãos atrás com o seu motorista particular, pois o simpático e
prestável Jácomo é um agente infiltrado dos serviços secretíssimos ao serviço
do seu ex chefe George Cara de Pau.
Ao chegar a São Catano
o ministro Elvas tinha à sua espera o irmão Marcus Sinfrónio que, com a
incumbência de ter uma palavrinha a sós com ele, quase se atirava para baixo do
carro de sua excelência. Valeu-lhe a perícia de Jácomo que, mesmo assim, não
ganhou para o susto.
- Ó Marcus Sinfrónio…, com tanta notícia falsa e boato a
correr por aí, só faltaria mesmo esta de o meu carro o ter atropelado…, ou
antes…, de você ter atropelado o meu carro. Por aqui também parece que anda
tudo doido. E ainda não fomos tomar posse, quero e mando com o Cavaquinho
Silverado!
«Estou nervoso…, muito nervoso…, senhor ministro de Estado…,
o estado a que as coisas estão a chegar não augura nada de bom» - via-se que Marcus Sinfrónio estava
à beira de um ataque de nervos.
-Homem acalma-te…, tem compostura…, o momento político requer
frieza e nervos de aço…, toma lá um comprimidinho aqui dos meus que eu hoje já
tomei três – o Dr.
Elvas toma Valdispert para todo o tipo de sintomas – mas conta como está o ambiente aqui em São Catano …, já sabidas
as gracinhas daquele tal George Cara de Pau… que ninguém conhece…
«O Passos Perdido está passado…, melhor dizendo…, quase a
passar-se…, repete que “uma barraca destas servida ao país pelo meu ministro de
Estado nº 1…, e logo com os troikanos cá outra vez…, a espiolhar por tudo
quanto é sítio…, não me faltava mais nada…, chamem o Elvas!» E logo um coro de vozes se ouviu do
interior da São Catano: “ó Elvas…, ó
Elvas…”
O Dr. Elvas ainda
pensou: -olha…, estão a cantar a canção
do Paco em minha homenagem!
«Em sua homenagem o tanas – berrou o Dr. Passos Perdido em cima do nariz dum
espantado Dr. Elvas – então você mete-se
numa sarilhada destas… quero dizer…, mete-nos a todos neste arroz à valenciana
em véspera do Cavaquinho Silverado nos empossar…, ó Elvas…, Elvas… ele não
morre de amores por nós…, lembre-se que o Cavaquinho partiu uma das jarras mais
valiosas que Bérrém se orgulhava de ostentar…, ainda do tempo da viagem do
Vasco da Gama…, assim que lhe comunicaram que nós tínhamos ganho o partido!!!
-Calma Senhor PM…, muita calma…, se houve asneira, calma e
cabeça fria não fazem mal a ninguém para colmatar algum dano do lado de cá – o Dr. Elvas transparece
tranquilidade, confiança e, acima de tudo, seriedade!
«Então o que propõe o meu ministro de Estado nº 1, como plano
de ataque…, melhor dizendo, de defesa» - os níveis de adrenalina do PM, sem dúvida, já estavam
quase no seu normal, e ao acentuar a sua posição de superioridade na irmandade
com aquele “meu ministro de Estado nº 1” bem
vincado, fez perceber ao Dr. Elvas que o Senhor PM dera uma mijadela, como um
cãozinho caniche a marcar território à porta do dono.
O ministro Elvas
aproveitou, o “acto biológico” tão digno de um PM, para fazer ouvir a sua voz
de comando, lembrando a todos que a melhor defesa é o ataque: -penso que estamos todos com dificuldade em
digerir o que não passou de um almocinho inocente com os comandos da Ongoering;
deixemos a tempestade amainar para amanhã navegarmos à bolina até Bérrém.
«Mas ó Elvas…, não houve um gajo da Secretíssima que te
escarrapachou com umas listagens de irmãos no télélé?». A pergunta do PM, feita com
evidente despropósito, foi abafada por inteligente intervenção de um homem do
norte:
«ao ataqueeeeee…, bradou Marcus Sinfrónio, perante o olhar
atónito de todos os presentes na sala vip da São Catano…, a melhor defesa é o
ataque» – rematou
firme.
Capítulo IV: Depois da bonança a tempestade – o costume
Quase um ano de paz
governativa trazia o Dr. Elvas num reboliço de negócios, visitas e inaugurações
pelos cantinhos mais recônditos da Lusitânia.
Foi precisamente num
desses passeios festivos e de distribuição de benesses aos correligionários do
voto na hora, com vivas ao governo atirados como papelinhos de Carnaval, que
surgiram as primeiras nuvens no firmamento do Dr. Elvas. O Assessor para a
Vigilância e Combate aos Media (VCM) manchou aquele banho de louvores e hinos
ao senhor ministro de Estado nº 1, quando o puxou pela manga do casaco e lhe
segredou ao ouvido – o que irritava solenemente sua excelência: «doutor…, peço desculpa…, acabo de receber
uma informação secretíssima do nosso irmão George, que também saiu hoje no
Expressamente, sobre um tal Nunes Semedão… jornalista…, que se diz vítima de
escutas telefónicas pelos SS».
O ministro Elvas,
embevecido com os vivas e revivas da exultante multidão, fez o comentário mais
apropriado ao momento, mas revelando desconhecer as bátegas de água bem gelada
que lhe iam cair em cima: -não conheço
nenhum George Nunes Simão! E dito isto sacudiu o assessor, voltando à
euforia da festa ao som do fandango ribatejano – “se tens pau agarra-te ao pau…, se não tens agarra-te ao meu…”.
Só mais tarde, de
regresso à capital, dormitando no banco traseiro do seu automóvel de Estado, se
deu conta do recadinho que o incansável assessor lhe tentara transmitir.
Lá estava na 1ª página
do Expressamente Jornal, esse fazedor de inventonas, a sua fotografia ao lado
do George Cara de Pau, com o título “Irmãos da sob-loja M”.
“Car^alhoooooo”… !!! ..., berrou o ministro Elvas em português vernáculo que fez estremecer o interior do pesado
automóvel à prova de bala em que se faz transportar sua excelência, palavrão
felizmente abolido com o novo acordo linguístico luso- brasileiro.
-Ó assessor…, liga-me a esse gajo para o pôr na ordem…, isto
está a passar das marcas… diz-lhe que estou possesso…, tipo demónio à solta…,
ou abafa já…. imediatamente… agora… a barraca…, ou mando triturá-lo numa
daquelas enfardadeiras de Rio Maior.
George Cara de Pau,
que tranquilamente dormia uma sestinha no seu gabinete da Ongoering, acordou
sobressaltado e de revólver em punho, como qualquer espião que se presa,
reagindo ao trim trim do télélé ( no caso em questão a música do filme do James
Bond 007 – live and let die).
«O senhor assessor activou-me todas as defesas…, há três noites que não prego olho colado ao
Balsepé… já tenho algumas vinte páginas de ficheiro com as actividades desse
menino.» - o
sob-espião tinha grande à vontade com o assessor ministerial…, e o Dr. Elvas
fazia-se de parvo para ir tirando vantagem de toda a informação filtrada para o
ex chefe agente toupeira pelos
corre-legionários ainda activados.
«Ó Cara de Pau…, o senhor ministro está muito…, digamos…,
agastado com as notícias do Expressamente sobre um tal jornalista Nunes Semedão…
porque, ainda por cima, chaparam com a sua fotografia (do senhor ministro de Estado nº 1) junto com a tua… em amena cavaqueira…
parece… » - o assessor engoliu em seco ao vislumbrar a expressão colérica
do Dr. Elvas.
Do outro lado da
antena o agente toupeira disse um
palavrão de grau 6.9 na escala de Berluscona
e foi incisivo: « se o gajo está
com agasturas que chupe pastilhas rennie… … e quanto à montagem fotográfica
desse pasquim dos sábados… olha ó assessor…, o gajo devia era estar babado por
aparecer ao lado de “GEORGE: O ESPIOLHÃO DO SÉCULO”!».
Foi então que o Dr.
Elvas percebeu que, uns tempinhos atrás, embarcara num almocinho com um tipo
completamente doido…
Uma explicação para o leitor que tem acompanhado esta
trapalhada do SIED (Serviço Informação E Desinformação): quando um cidadão mete
a mão para recolher informação para qualquer outro cidadão desta Nação poder
ajuizar com correção, logo surge o habitual coro de lamentação: ai… ai… ai…,
vai lá vai que estão a bater no pai e na
mãe e não se pode dizer mais nada porque os meninos ficam ofendidos. E quando
os meninos ficam ofendidos já sabemos que haverá fuga para a frente.
Pois… choveram mais SMS e Clippings, telefonemas anónimos e
emails, nos meus telemóveis e portátil, do que a chuva que caiu durante o
Inverno passado.
Assunto recorrente: ofensas pessoais e a familiares, estes
nada tendo a ver…, desconhecendo mesmo os conteúdos das minhas crónicas de
investigação.
Claro que acabei por levar uns socos à saída do emprego…,
enfim… ossos do ofício, felizmente sem nenhum osso partido.
Com mais uma investigação
em pleno desenvolvimento, a questão curricular do Dr. Gabriel Elvas,
aqui fica também um registo do que se pode, ou não pode, apurar.
Capítulo V: a escutar Portugal inteiro
Na estória da espiolhagem
portuguesa, desde os tempos do zaragateiro
Afonso, certamente o primeiro caso de violência doméstica praticado
entre nós, com dimensão histórica – desancou a mãe na batalha de S. Mamede –…,
passando pelos exmos frades dominicanos, mestres nos tratos de p. e p.…, e pelo
exmo marquês…, esquartejador da nobre nobreza portuguesa…, e pelo intendente Pina, avesso aos ventos
ciclónicos da revolução francesa…, e termino as nomeações soletrando apenas o
nome do major Silva, campeão do terror à moderna portuguesa…, nenhuma destas
pragmáticas instituições poderia ombrear com a vanguardista SIED (Secretíssima
Informação E Desinformação). Não nos referimos à prática de tortura, nesse
aspeto podemos dizer que os agentes têm os pés limpos, mas sim ao acompanhamento
de todo e qualquer cidadão que, pelos seus compromissos, atos ou negócios,
possa vir a pôr em risco a harmonia da Irmandade Secretíssima.
E não há memória de
tamanha inteligência a dirigir a Secretíssima como o sob-espião George Cara de
Pau. Conhecedor dos meios de investigação mais modernaços, consolidou uma base
de dados pormenorizada sobre as questões tão simples quanto relevantes sobre o “cadastro”
multifacetado dos personagens.
Pode ler-se, a páginas
tantas…, no ficheiro de um qualquer arqui-inimigo: …tem seis dedos em cada pé…
ou só corta o cabelo se o Benfica for campeão… ou ainda…, come de boca aberta…
…e tem caspa que se farta; qualquer um é apontado certeiramente quando é
necessária uma identificação eficiente; em outra ficha chega ao pormenor de
anotar que o ministro “fulano de tal” tem dez cabeleiras postiças, assim como o
número de cabelos que possui cada uma.
Um pasmo de
competência e ação habita na casa dos segredos secretíssimos…, foi esta a
desinformação que o PM Dr. Passos Perdido transmitiu ao país e em particular
aos portugueses…, …que podem dormir de
portas abertas e com o computador ligado (hoje a maior parte dos
portugueses tem portátil para preencher o IRS).
Este pequeno equívoco
do Senhor PM, desconhecendo a mudança de habitat do tal “pasmo de competência”,
levará mais tarde a uma embrulhada governamental tão inimaginável quanto foi,
depois, o seu pedido de proteção política ao troglodita da ilha da Bananeira.
Com os mais enlevados
sonhos patrióticos, divagando ao sabor da rotineira soneca pós prandial na
mansão da Ongoering, George simplesmente, como adora chamar-se a si próprio,
foi sacudido do seu estado quase hipnótico pelo Hino Nacional, completo de
música e letra, toque que introduziu no seu telemóvel particularíssimo.
-Está lá…, está…, é o George pá?
«Como está o meu amigo… Senhor Ministro Dr. Elvas?»
-É pá!... você soube logo que era eu pá!... – George adivinha o estado emocional
do Senhor Ministro pela alta frequência com que usa o “pá” no discurso directo…
e indirecto também.
«Claríssimo meu amigo… então para que me serve uma listinha
de vozes que me dei ao trabalhinho de guardar em ficheiro sonoro da
Secretíssima?».
-ÓÓÓÓ… mas isso é antidemocrático…, quero dizer
anticonstitucional!!! Se a oposição sabe
de uma coisa dessas… é uma bomba mais barulhenta que a atómica (úúúúúú).
«Anti quê?... …Senhor Ministro… cabeça fria… cabeça
fria… temos a mão na massa… não vamos
dar o ouro ao bandido…, quero dizer…, à oposição…; …mas a que devo a honra
desta hiperligação, para além da grande satisfação que me dá sempre ouvi-lo?».
-Ó Senhor Dr. George…, digamos pá que tenho aqui um
probleminha entre mãos com uma espécie de jornalista do Púlpito… uma tal Maria
José Palmeira pá… que me anda a moer a cachimónia… e o meu amigo sabe que quando
nos moem a cachimónia pá não conseguimos pensar… o que este país mais precisa
de nós… do governo pá… - George ouvia atentamente o Sr. Ministro Elvas a roer as unhas ao mesmo
tempo que debitava doses maciças de ansiedade em cada palavra articulada – ora pois, pensei eu, o George Cara de Pau
deve ter dados interessantes pá da folha curricular desta menina pá!
«O Senhor Ministro pensou… e pensou muito bem…, pois sobre
qualquer jornalista…, por mais badameco que seja…, os nossos ficheiros são
secretíssimos…, isto é, completíssimos… claro está!».
-Mas… deixe-me perguntar-lhe George, por uma questão de
curiosidade pura…, essas completíssimas fichas são de quem…, dos Serviços ou da
Ongoering?
«Minhas… meu…, minhas após anos a fio de serviço de
toupeira!», disse
George Cara de Pau denotando alguma irritação, que o fez não medir, com o rigor exigido pelo seu
estatuto, o modo como se dirigiu a sua excelência o Senhor Ministro de Estado
nº 1 Dr. Elvas.
-Então sendo suas vamos a isto… pá…
«Vamos a isto… pá… uma
ova! Vamos primeiro analisar uns pendentes…, senhor ministro pá!», atalhou bruscamente George Cara de
Pau, o que deixou sua excelência em crescente grau de perplexidade.
-Ó George… o meu amigo acredita pá que agora não estou a
perceber nada dessa sua conversa… pá!?
« O senhor ministro abusa do queijo e um dia destes apanha
uma camada de brucelose…é o mais certo» - o agente toupeira sorria discretamente para si ao imaginar
o frenesim gestual que acometia o Dr. Elvas.
-Bruce… quê?..., perguntou o ministro, pensando que o agente toupeira já
estava a passar das marcas.
Mas não estava: George
Cara de Pau avivou a memória do Dr. Elvas sobre um telefonema que este fizera
para a sua esposa, anunciando-lhe que estava ministro…, …onde veio à baila um
despropositado gozo com ele próprio, George Cara de Pau, sobre o seu grau
académico, nomeadamente no domínio das línguas técnicas francês e inglês… …o
que considerou uma ofensa pessoal e idiota, de quem mais valia meter a língua
no saco. A cólera assomara agora ao rosto do sob-espião numa dose qb.
Um pesado silêncio
percorreu de um lado para o outro a rede, sendo comutado por um gaguejante Dr.
Elvas: -ó…ó…ó… di… di… diabo…, a Duchinha
sempre tinha razão… você anda a escutar Portugal inteiro… pá!
«Eu…, senhor ministro?…, … então leia amanhã o
Expressamente…, que vai ter saudades do dia em que a minha fotografia, ao lado
da sua, lhe provocou agasturas abdominais… … e talvez perceba quem anda a
escutar quem ».
George cortou propositadamente a chamada, sabendo que, do outro lado da rede,
uma palidez de morte tomava conta do rosto de sua excelência o senhor ministro
de Estado nº 1.
Capítulo VI: o sabichão (ficheiro informático recolhido por
GCP)
O comentador anónimo do capítulo anterior sugeriu-me que a
“questão da licenciatura” fosse abordada. Bronca em pleno desenvolvimento, está
visto que o Dr. Elvas não acerta uma…, isto é…, quanto mais quer acertar mais
desacerta.
Tendo-me cheirado a esturro, pois é mais que certa a
existência de toupeiras no AL Tejo, como na generalidade dos media, não resisti
a investigar o assunto que ensombra a secular Instituição Universidade.
É escusado dizer que
Universidade está inocente!
Os patifes, com grandes esquemas de compadrio e corrupção,
proliferam no mundo da política e das negociatas como abelhas à volta do mel.
Não tendo tempo para dedicar à leitura dos livros da sabedoria, esgatanham-se
para arrancar um título de doutor a qualquer preço. É uma afronta àqueles que
dedicam a vida inteira ao estudo.
Lembram-se da máxima do Vasco Santana: “doutores há muitos”…
Desde que nascera, o
Dr. Elvas fora colecionando créditos, pensando os papás que num futuro, embora
distante, uma, ou mesmo duas licenciaturas nunca seriam demais.
Nesses tempos de
analfabetismo nacional, saber ler e escrever era uma ousadia quase tão grande
como ter dito, uns tempos antes, que a Terra girava à volta do Sol. E ser
doutor era um título mitificado… (mistificado), a tal ponto, que elevava o seu
titular quase às portas do Olimpo: se um doutor dissesse sim…, era sim senhor doutor…,
se um doutor dissesse não…, era não senhor doutor…, … quem é que se atrevia a
contradizer um doutor?!
Com base nestas
premissas, foi logo religiosamente guardado, no cofre da casa paterna, o
chupetão onde o bom do Elvinhas desenvolvera uma bem treinada musculatura de
sucção, até ao início da idade escolar. “Ainda
pode vir a fazer-lhe falta” – disse o pai!... (grande é a sabedoria dos
mais velhos).
No entanto, os
desígnios do destino nem sempre cumprem as aspirações familiares, como muito
bem o comprova o case study deste promissor estadista… … o Dr. Gabriel Elvas.
Passar as páginas dos
livros…, uma a uma…, depois de bem lidas e interpretadas, era uma sensaboria
pior do que ir ver um jogo do Sporting
Clube De Portugal, assim pensava o jovem Elvas.
Não foi por falta dos
conselhos do pai Elvas, que a toda a hora lhe preenchiam os ouvidos: “meu filho…, agarra-te ao verbo…, olha que
um canudo vale mais do que a herança da tia Mariana e do pai… … juntas…, depois
hás-de torcer a orelha e não deita pinga”…, assim se expressava
quotidianamente a preocupação paterna.
Mas qual quê…, o
Elvinhas tinha herdado na têmpera uma aversão ao estudo tão grande como o seu
gosto por festas, farras e noitadas a jogar ao sete e meio.
Um dia, já moço
espigadote, o bichinho da política perfurou-lhe a epiderme e tomou-lhe conta
dos interiores. De nada valeram as palavras sensatas…, umas, outras
ameaçadoras, do progenitor para o demover de tal desgraça: “os políticos são todos uns pantomineiros…, anda um homem a criar um
filho para isto…, desgraçado… …ainda te deserdo… eu e a tia Mariana”…
A Gabriel Elvas esta
cantilena entrava por um ouvido e saía pelo outro!
Aconteceu…, num
comício da JSD (Juventude Sem Desemprego), após um discurso inflamado do líder,
o Dr. Passos Perdido, o nosso amigo ora se levantou…, ora se sentou…, bateu
palmas e berrou “Apoiado” tantas vezes quantas as que foram necessárias para o
orador lhe dar a devida atenção…, a ele…, posicionado logo ali, na primeira
fila.
Por fim, o Dr. Passos
Perdido foi ao seu encontro de braços abertos, cumprimentando: «como está o doutor…, muito obrigado pelo
apoio doutor…, contamos consigo doutor…, a tiá Guidá…, onde está a tiá Guidá?…,
…tiá dê uma ficha de inscrição ao doutor…, partido e irmandade incluída».
Elvas ainda balbuciou,
com aquela ingenuidade digna dos principiantes: -doutor…, olhe que eu não sou doutor pá…, ainda nem acabei o 9º ano…
«Qual quê!!!»…, disse o chefão da JOTA (Jovens Operários e Trabalhadores
Associados)…, «aqui somos todos doutores…
… doutores em “Ciência Política e
Estudos Estrangeirados”…, é o C.V. de todos os jotas … concordas meu?».
A quase ultrapassada
timidez do Elvas logo o fez questionar: -e
o canudo pá?
Foi a voz esganiçada
da tiá Guidá que prontamente esclareceu:
«Meu caro doutor Elvas…, o cartucho…, perdão…, o canudo… …
estamos a tratar do assunto na Lusófila!».
Epílogo
E que bem trataram do
assunto! Veio aos órgãos de comunicação social o excelentíssimo administrador
da Lusófila, botar lição de sapiência para todo e qualquer cidadão desta Nação:
“se ele (quem?) já
sabe tudo…, não vem cá fazer nada… e dá-se-lhe o canudo!” (sic.)
AC
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