Foram três anos a lutar contra um
endividamento de tal modo pesado que todos os dias limita as nossas
possibilidades de actuação, três anos em que assistimos a sucessivas reduções
nas transferências do Estado para a autarquia ao mesmo tempo que as nossas
receitas directas de taxas e impostos diminuíam e éramos alvo de retenções e
penhoras de créditos de valores astronómicos para a nossa realidade por dívidas
do passado – o que ainda está a acontecer. E tudo isto num cenário de crise
nacional e internacional em que as pessoas estão mais desprotegidas e ainda
esperam mais da câmara municipal.
Algumas pessoas ainda não
perceberem a real dimensão do problema e pensam que tudo não passa de uma
guerra de números entre forças políticas. Mas a verdade não permite
interpretações duplas.
Por tudo isto, para mim, o mais
positivo destes três anos é, apesar de todas as dificuldades, termos uma câmara
a funcionar em pleno, a construir as bases sólidas para um futuro melhor, a
recuperar a sua credibilidade, bom nome e confiança das pessoas do concelho,
assim como credibilidade externa nas relações institucionais. E ainda considero
mais positivo que seja um movimento independente a liderar este processo com a
ajuda de muita gente, dentro e fora da câmara que coloca acima de tudo a sua
dedicação ao concelho.
E a menos conseguida ou até a mais frustrante?
Tem havido limitações e atrasos
na aprovação de financiamentos comunitários para alguns dos projectos que
desenvolvemos e que consideramos prioritários, como por exemplo a remodelação dos sistemas de água e saneamento
em todo o concelho ou a requalificação do caminho municipal 1109 entre Rosário
e Ferreira de Capelins, ambos prontos para avançar há quase 2 anos.
Por outro lado, a conjuntura
económica tem sido um obstáculo ao avanço de projectos privados, sobretudo na
área do turismo, que estão aprovados pela câmara, alguns até já têm
financiamento comunitário mas que demoram a sair do papel pelo clima de
incerteza com que os investidores se confrontam e que poderiam, muito rapidamente,
contribuir para a criação de emprego e para ajudar o concelho a afirmar-se como
destino turístico.
PUBLICADO EM 18 FEVEREIRO
Temos estado a introduzir
mecanismos de poupança que só não avançam mais rapidamente porque exigem
investimentos iniciais significativos, como é o caso da bomba de combustível
própria que já está em funcionamento e que permite uma poupança de 10 cêntimos
por litro de gasóleo.
Quanto ao património histórico,
assumimos como prioritária uma estratégia de intervenção e de recuperação como
factor decisivo para um desenvolvimento sustentado assente na economia cultural
e no turismo. Estamos a intervir no castelo do Alandroal, vamos restaurar a
“Fonte das Bicas” e recuperar a Capela da Boanova e estamos a desenvolver
projectos para que o património do concelho tenha um plano de recuperação
exequível e contínuo ao longo do tempo – algo que nunca aconteceu no passado! –
e estamos a preparar uma estratégia de incentivo à ocupação e reabilitação dos
centros históricos de Alandroal, Terena e Juromenha.
Destaco ainda a prioridade dada
ao desenvolvimento económico. Criámos eventos de promoção do concelho e das
suas actividades económicas que se estão a consolidar pela autenticidade,
qualidade e sustentabilidade. A “Mostra Gastronómica do Peixe do Rio” e o
Festival “Terras do Endovélico” estão a tornar o concelho conhecido pelo que
tem de melhor. Ajudámos a criar a primeira associação empresarial do Alandroal,
criámos um novo conjunto de incentivos à fixação de empresas e estamos a
estabelecer laços de cooperação com outros municípios, de onde destaco a
cooperação com Olivença que se vai traduzir na assinatura de um protocolo já no
próximo dia 19 com a presença de empresários dos dois concelhos.
Estas prioridades, assim como
outras em áreas tão diversas como a cultura, a acção social e a educação, a
eficiência energética, as acessibilidades e a mobilidade sustentável estão hoje
plasmadas num documento que contou com a participação de todos na sua
elaboração (Agenda 21 Local) e que orienta o desenvolvimento estratégico do
concelho para os próximos anos.
Politicamente optou por ser do PS e nessa força política foi militante.
Depois face às situações sobejamente conhecidas e que o levaram à fundação do
MUDA, qual é presentemente a sua orientação ideológica dominante?
Não quero falar do passado, mas o
tempo veio provar que estávamos certos nas posições que tomámos. Sabíamos quais
seriam as consequências disso ao nível do partido e sempre convivemos bem com
isso. Aliás, a cada dia que passa aumenta a nossa convicção de que não poderia
ser de outra maneira e cada vez são mais as pessoas que compreendem isso.
Neste momento representamos com
muito orgulho um movimento independente que mantém boas relações com todos os
partidos e isso é o mais importante porque quem ganha é o Alandroal.
PUBLICADO DIA 21 DE FEVEREIRO
Considera-se um político de carreira?
Pensa continuar mesmo que não venha a ser o próximo Presidente da Câmara
prosseguindo a vida politica? Isto é, aceitaria desempenhar o cargo de Vereador
mesmo se não vier a vencer as eleições?
Nunca
me poderia considerar um político de carreira porque fiz o meu percurso e a
minha carreira no ensino e num determinado momento senti que podia fazer uma
pausa nessa carreira e dedicar-me ao meu concelho. É isso que tenho estado a
fazer e só nesta perspectiva é que encaro a vida política. Só esta perspectiva
é que me permite que esteja de corpo e alma num projecto mas sempre pronto para
voltar a essa carreira se for necessário, sem me sentir refém de nada nem de
ninguém. Penso que já demonstrei que não estou agarrado a lugares nem a tentar
fazer carreira. O que me move são as convicções e é por elas que pretendo
continuar enquanto sentir que faz sentido. Em politica, como na vida, tão
importante como escolher o momento para entrar é saber escolher o momento para
sair. Espero vir a ter a sabedoria necessária para um dia não deixar passar
esse momento.
O
MUDA tem um projecto de desenvolvimento para o concelho que está longe de se
esgotar nestes quatro difíceis anos que agora terminam. Pelo contrário, é nos
próximos 4 a
8 anos que esperamos que todos, no concelho,
possamos colher os frutos deste trabalho. Como tal, não nos passa pela
cabeça que este ciclo fundamental para o futuro do concelho seja interrompido
antes do tempo. Mas isso, o povo é que, soberanamente, através do voto, vai
decidir. Qualquer pessoa que se apresenta a eleições tem que ter a humildade
para ocupar o lugar que os eleitores lhe reservarem. É uma das mais elementares
regras democráticas e de respeito pelos eleitores.
Acredita que consegue até ao fim do
Mandato colocar o Município a salvo do garrote das dívidas contraídas e que,
enquanto Presidente, poderá concretizar as medidas preconizadas na Agenda 21
Local?
Como já disse, os passos
necessários para isso já estão dados. Com a aprovação pela Assembleia Municipal
do Plano de Reequilíbrio do Município é só já uma questão de tempo até que o
mesmo seja uma realidade. Esse plano representa dificuldades e constrangimentos,
uma vez que ao longo de 20 anos vamos ter que amortizar mais de um milhão de
euros de dívida por ano – dinheiro que devia ser usado para o desenvolvimento
do concelho nos próximos mandatos – mas, apesar de tudo, este plano assegura
uma margem de investimentos que nos permite acreditar na implementação da
Agenda 21 Local. É nesse equilíbrio difícil entre pagar dívidas e fazer
investimentos que temos que construir o nosso futuro. Sendo certo que o “tempo
das vacas gordas” passou e hoje vivemos uma realidade completamente diferente
no país e no mundo. No Alandroal, em particular, as vacas nem sequer eram
gordas, estavam inchadas de endividamento para bem parecer. Nem somos tão
pobres como nos pintaram no passado nem tão ricos como recentemente nos
quiseram fazer parecer. Somos um concelho onde é preciso arregaçar as mangas,
falar menos e trabalhar mais!
Trace-nos um
brevíssimo diagnóstico para o Concelho do Alandroal em termos de presente? Acha
que temos um futuro prometedor?
Se não acreditasse num futuro prometedor para o concelho não
andava aqui.
Temos futuro porque somos um concelho que pela riqueza
natural e patrimonial, pela história e cultura, pelas acessibilidades e
proximidade com Espanha, por estar simultaneamente na Zona dos Mármores e em
Alqueva tem um potencial de desenvolvimento acima da média dos concelhos
vizinhos e dos concelhos do interior no geral, mas não há milagres. Só com
muito trabalho ao longo do tempo se pode concretizar essa realidade. Acredito
nessa realidade e nestes quase quatro anos fiz tudo para criar os “alicerces”
que nos aproximam dela. Gostava de continuar a dar o meu contributo para o
crescimento das “paredes” deste edifício nos próximos anos e um dia ver
concretizado o mais que merecido “telhado” para os nossos filhos e netos.
Porque acredito neste edifício chamado “Concelho do Alandroal”.
O que sempre faltou ao concelho foi trabalho sério e
estratégia de longo prazo.
Sempre ouvi dizer que “temos a vantagem de estar perto de
Espanha”, mas nunca vi ninguém fazer nada para tirar partido disso. Agora, pelo
contrário, estamos a trabalhar a sério
com Olivença e queremos chegar a Badajoz, Cáceres e Mérida. Nunca antes tinha
havido, do ponto de vista político, o mais pequeno esforço de aproximação.
Houve geminações com Cuba, Cabo Verde, Brasil que a única coisa que deixaram
foi grandes contas para pagar e nunca se olhou para o lado, onde os benefícios
para as populações podem ser simples e imediatos.
Sempre ouvi dizer que “o Endovélico é único no mundo e só
nosso” mas nunca vi ninguém fazer nada para o promover ou criar um museu.
Agora, pelo contrário, criámos o “Terras do Endovélico”, estamos a projectar o
museu, criámos o centro de estudos, estamos a apoiar publicações, escavações,
etc.
Sempre ouvi dizer que “temos um grande tradição no peixe do
rio e o nosso concelho é conhecido por
isso”, mas nunca vi ninguém fazer nada para promover essa tradição e com isso
trazer visitantes. Agora, pelo contrário, criámos a “Mostra Gastronómica” e já
se pode comer peixe do rio em todos os restaurantes do concelho (antes da
mostra havia um único a servir peixe) e a procura de peixe já permite a
existência de pescadores profissionais.
Sempre ouvi dizer que “os nossos monumentos, os nossos
castelos, são a nossa maior riqueza”, mas muito pouco se fez para os recuperar
e tornar atraentes para os visitantes. Vendeu-se gato por lebre até à exaustão
com “o concelho dos três castelos” que depois eram três ruínas que causavam – e
ainda causam –grande desilusão aos turistas. Agora, pelo contrário, temos um
plano contínuo de intervenções no património que já começou no castelo do
Alandroal, vai estender-se à fonte da praça e à Capela da Boanova, ao castelo
de Terena e à Misericórdia de Terena, Rocha da Mina, o Posto da Guarda Fiscal
de Montejuntos, para mencionar os que já tem trabalho em desenvolvimento.
Sempre ouvi dizer que “o nosso concelho tem um grande
potencial turístico, agrícola e agro-industrial” mas nunca vi a câmara fazer
nada de concreto para ajudar os empresários a construir essa realidade. Agora,
pelo contrário, ajudámos a criar uma associação empresarial, temos em
desenvolvimento investimentos comuns com a Associação de Beneficiários do
Lucefecit, estamos a estabelecer pontes com Espanha e com outros países da
Europa, e tudo sem sair de cá! É verdade que é o momento mais difícil para este
trabalho, mas por isso mesmo é que não podemos perder mais tempo.
E podia continuar com o “sempre ouvi dizer” e “nunca vi
fazer”. Porquê? Ajudem-me a responder os que puderem, mas a verdade é que
estava tudo aí, à espera de ser feito. É claro que os resultados de uma
estratégia deste tipo demoram a aparecer. Não dão votos no imediato. É um risco
para quem governa mas é o que o concelho precisa. E sempre se apostou em
estratégias mais “seguras” de curto prazo. Mas imagine onde estaríamos hoje se
todas estas estratégias de desenvolvimento tivessem sido começadas há 30, 20 ou
mesmo 10 anos atrás!
Mais vale tarde que nunca – teremos que dizer – mas está
aqui grande parte da explicação para o nosso atraso histórico em relação aos
concelhos vizinhos.
Em que situação estão
as obras da Biblioteca Municipal? E já agora que utilidade se pretende dar ao
Parque onde se fizeram as Expo-Guadiana?
A obra da biblioteca municipal começou em 3 de Junho de 2005
e tinha um prazo de execução de um ano. Tinha um custo total de cerca de 1,5
milhões de euros. Financiada a 50% pelo Terceiro Quadro Comunitário de Apoio
(QCAIII) e 45% pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB), à
câmara correspondia apenas 5%, ou seja 75 mil euros.
Os projectos do QCAIII tinham que ser executados até à data
final de encerramento do quadro comunitário, Junho de 2009, o que não se veio a
verificar.
Portanto, hoje, a situação é a seguinte: precisamos ainda de
mais de 500 mil euros para concluir a obra e estamos a ser pressionados pela
CCDR para devolver mais de 360 mil euros de financiamento recebido. Ou seja,
uma obra que teria custado à câmara 75 mil euros se tivesse sido concluída no
prazo previsto (ou mesmo em quatro vezes o prazo previsto!) exige, hoje, para
ser concluída quase um milhão de euros dos escassos recursos da câmara. É esta
a dimensão do problema.
Quanto ao chamado “parque de feiras e exposições” é de longe
o local onde, ao longo do tempo, das mais diversas formas, mais dinheiro “se
enterrou”.
É impossível calcular com exactidão tudo o que ali se
gastou: custo do terreno, sucessivas terraplanagens e instalação de
equipamentos eléctricos (cada vez que havia uma feira), aluguer de tendas e
outros equipamentos, construção de vedações (foram feitas pelo menos duas, a
última em 2009), etc. Foram milhões que não se traduziram em nada.
Para além disso, o projecto de um “mega-pavilhão de eventos”
no parque de feiras estava totalmente desajustado da nossa realidade como se
tem provado em concelhos vizinhos. O actual quadro comunitário já não estava
orientado para financiar projectos deste tipo e o que se conhece do próximo,
ainda menos.
Hoje temos em desenvolvimento um estudo prévio que
oportunamente será apresentado à população para discussão e que prevê uma total
inversão da filosofia do espaço numa lógica de “parque verde” com espaço para a
praça de touros e um picadeiro com escola de equitação (numa lógica de
concessão privada), jardins, circuito de manutenção, “skate-park”, hortas
comunitárias, etc.
PUBLICADO A 28 Fevereiro 2013-02-27
Pode
adiantar-nos algo mais sobre o andamento
das Comemorações dos Forais?
Este era outro assunto que estava totalmente esquecido e que
não podemos deixar de assinalar com a devida dignidade pela sua importância
histórica e pela circunstância de termos três forais num único concelho. As
Comemorações dos 500 Anos dos Forais Manuelinos de Juromenha, Terena e
Alandroal estão a decorrer de Outubro de 2012 a Janeiro de 2016 com os principais
eventos agendados para o período de Outubro de 2014 a Outubro de 2015. Já
está constituída uma comissão “ad hoc” para orientar científica e culturalmente
os trabalhos, estão estabelecidos os contactos com o Arquivo Nacional da Torre
do Tombo para o restauro dos exemplares do município e contamos apresentar o
programa das comemorações muito em breve em data e local a designar. As
comemorações envolvem o restauro dos originais, uma edição “fac simile”
conjunta dos 3 forais e podem ainda
envolver recriações históricas, conferências, exposições e outros momentos
distribuídos pelas três localidades do concelho.
Esclareça-nos sobre o
projecto “Endovelico”? As pessoas
continuam envolvidas?
O projecto “Endovélico” é e continuará a ser uma das nossas
grandes prioridades. Como traço cultural, é um dos nossos principais factores
de diferenciação e de afirmação mas a verdade é que, mesmo dentro do concelho,
ainda muitas pessoas desconhecem a real importância que este deus e o seu culto
teve no contexto da Lusitânia romana.
Neste mandato desenvolvemos o estudo prévio do centro
interpretativo/museu em colaboração com o Museu Nacional de Arqueologia e
contamos apresentar o projecto definitivo em Julho próximo. Será um espaço onde
o espólio do Endovélico terá um lugar central mas muito interactivo, capaz de
mostrar às crianças e jovens das escolas o que era a vida romana no nosso
território há 2000 anos atrás. Será também um verdadeiro museu do concelho com
uma forte componente etnográfica e da relação com a fronteira. Contamos que
seja um espaço capaz de atrair de forma contínua um número significativo de
visitantes com destaque para estudantes de todo o país mas também de Espanha.
Lançámos o Festival “Terras do Endovélico”, que terá este
ano a sua terceira edição, num formato que conjuga a promoção cultural com a
feira de actividades económicas, num modelo muito sustentável mas que procura
ser o ponto alto da afirmação do território.
Criámos o “Centro de Estudos do Endovélico” que está a
juntar os especialistas na orientação científica do projecto do museu, mas
também a criar outras dinâmicas, com destaque para o programa educativo que vai
levar a arqueologia até às escolas e a todas as crianças do concelho.
Estamos a desenvolver um documentário sobre as “Terras do
Endóvelico” (para apresentar em Julho), financiado por fundos comunitários, e
que será um importante cartão de visita do concelho.
Fruto do trabalho do centro, teremos, também em Julho um
congresso científico que vai juntar todos os investigadores nacionais e
internacionais da temática. As comunicações deste congresso darão corpo à
primeira edição dos “Cadernos do Endovélico” que ao longo do tempo continuarão
a nova produção científica e a enriquecer o centro de estudo.
Para nós o mais importante é que as crianças e as pessoas do
concelho conheçam e valorizem este legado histórico e cultural. Só assim
poderemos aumentar a nossa auto-estima em relação ao concelho e à sua riqueza
cultural e transmitir aos visitantes.
Como parte desta estratégia posso adiantar que, antecedendo
o congresso de Julho, a câmara vai organizar um conjunto de visitas guiadas de
pequenos grupos ao Museu Nacional de Arqueologia para que conheçam a real
importância deste legado no contexto da Arqueologia nacional.
PUBLICADO 04 Março 2013-03-04
PUBLICADO EM 11 MARÇO 2013
Em recentes
declarações, esclareceu que voltaria a candidatar-se, se para tal reunisse o
consenso do MUDA. Dando como certa tal anuência e sabendo as dificuldades que
se prevêem para os próximos anos, dada a contingência da extinção do Concelho
(vide o que sucedeu recentemente com as freguesias), não teme que um segundo
mandato possa vir a colocá-lo como o último Presidente da Câmara do Alandroal?
Penso que a fusão de
municípios fará sentido em áreas densamente povoadas, onde quase não se percebe
onde acaba um concelho e começa outro – como as áreas metropolitanas de Lisboa
e Porto – onde seria possível uma grande poupança com grandes ganhos de escala
já que existem maiores dinâmicas empresariais e da sociedade civil e onde os
serviços do Estado estão bem presentes. Nos territórios do interior, onde as
câmaras municipais, mercê do desinvestimento de sucessivos governos, são a
única resposta para as populações e ao mesmo tempo as grandes impulsionadoras
das dinâmicas locais, extinguir municípios é condenar os territórios a sofrerem
uma desertificação ainda mais rápida e destrutiva.
E não podemos aceitar
argumentos de poupança, já que o esforço do Estado é mínimo comparando com tudo
o que se consegue aqui fazer pela vida das pessoas com esse dinheiro. Os males
da nação estão bem identificados no buraco da Madeira, no défice crónico e
crescente das grandes empresas públicas, nas PPP’s e nos BPN’s, entre outros. O
dinheiro que aqui recebemos do estado é mais do que devido. Não só resulta dos
nossos impostos com também nos nossos territórios estão os recursos naturais,
as áreas protegidas, os montados, as barragens, a RAN e a REN... As populações
do interior pagam um preço elevado para que Portugal mantenha bons indicadores
ambientais e o único que pedem em troca é que sejam compensadas na devida
medida em relação à riqueza que produzem e que encerram e não que sejam olhadas
com a desconfiança de quem está a pedir para gastar o que outros pagaram em
impostos.
Para alem disso,
nestes territórios que
estão a ser abandonados à sua sorte está tudo o que Portugal tem de único e
irrepetível em qualquer lado do mundo e com potencial para ajudar a construir
um futuro sustentável. Está o que resta de cultura e tradições milenares de um
modo de vida em equilíbrio com a Natureza, que para além de ser factor decisivo
de identidade e afirmação é um factor económico de peso.
Temo que o Alandroal
possa vir a estar numa posição mais fragilizada do que devia no momento em que
a questão vier um dia para cima da mesa. A sucessiva falta de estratégia de
desenvolvimento e a situação de endividamento crónico em que ficámos retira-nos
alguma capacidade de argumentação.
É por isso que é
importante mostrarmos hoje que sabemos para onde queremos ir, que temos
parcerias estratégicas com os nossos vizinhos que ajudam a construir esse
caminho. Que temos valor e potencial económico. Que somos rigorosos na
aplicação de fundos comunitários. Que fazemos trabalho sério e consistente e
que, como tal, devemos ser respeitados pelo poder central e por todos os
organismos do Estado. Temos que mostrar que vale a pena continuar a pensar o
Alandroal como um território com identidade, potencial e futuro. E que há lugar
neste processo para todos os que queiram dar o seu contributo.
Esta pode muito bem
ser a nossa última oportunidade de mostrar isso e fazer um ponto de viragem
neste concelho. Temos que mostrar que a nossa continuidade enquanto concelho
não pode ser posta em causa.
E se não o conseguirmos, seremos todos responsáveis. Uns mais
que outros, é claro, em função das responsabilidades e do poder de intervenção.
Portanto a questão de fundo é quem se vai demitir de fazer parte deste
processo!
A terminar: dê-nos a
sua opinião sobre o papel dos blogues e sites do Alandroal e, se assim o
entender sobre o papel que o Al Tejo tem vindo a desenvolver.
Os blogues podem ser
importantes meios de comunicação, e é por isso que desde o início deste
mandato, a Câmara Municipal adoptou a postura de enviar informação da
actividade do município para os blogues mais conhecidos da sede de concelho
colocando-os em pé de igualdade com qualquer meio de comunicação social, até
porque, esses meios não existem no concelho e estes acabam por ser uma
importante fonte de informação.
Entre as pessoas ou
instituições e os meios de comunicação social, por força do seu código
deontológico, existe, regra geral, um respeito mútuo e uma partilha de
responsabilidades que funciona como garantia dos direitos e liberdades e da
livre expressão de cada um. Nos blogues isto não está assegurado. As únicas
garantias que podem existir são as que resultam dos critérios, mais ou menos
claros, do editor.
Não nos podemos
esquecer que os direitos e liberdades de uns terminam necessariamente onde
começam a colidir com os direitos e liberdades de outros.
Admiro e respeito
todas as pessoas que nos blogues dão a sua opinião e escrevem o seu verdadeiro
nome por baixo. Como alguém disse um dia, “posso não concordar com o que dizes,
mas bater-me-ei até ao fim pelo teu direito a dizê-lo!”
Infelizmente para todos
nós, noto que os nossos blogues estão longe de cumprir esta missão.
Ao contrario do que
muitos defendem, o anonimato
não serve a livre expressão.
A pretexto da
“liberdade”, da “livre expressão” ou da “imparcialidade” não se pode dar espaço
às mais cobardes formas de espalhar o boato, a mentira e a difamação.
Os blogues perdem
assim o seu carácter informativo e transformam-se em espaços e instrumentos que
contribuem activamente para um ambiente revanchista, destrutivo, de
“bota-abaixo” e de destilar de ódios que só serve interesses obscuros mas ao
mesmo tempo identificáveis.
Ninguém que queira
fazer um trabalho de comunicação sério pode deixar-se usar como instrumento
desta estratégia.
Quem quer ser
respeitado deve dar-se ao respeito. Qualquer editor não se pode distanciar de
qualquer conteúdo do seu blogue ainda que seja um comentário. Se os blogues
querem fazer um trabalho sério e ser respeitados por isso comecem por dar o
exemplo: Acabem de vez com comentários anónimos e de gente que não se
identifica publicamente.
Portanto, penso que o
AL-TEJO tem sido um importante meio na difusão do concelho e do que nele
acontece, que o tem feito de forma imparcial e abrangente, que dá espaço a
opiniões diversas e bem identificadas e que já fez um importante percurso na
forma de lidar com os comentários anónimos.
Falta dar mais um passo. Falta acabar de vez com esses comentários que poluem
uma imagem quase irrepreensível. Deixo aqui esse desafio ao editor.
Caso o entenda
necessário e se for de acrescentar e informar algo
mais sobre o Concelho,
faça o favor. Via aberta.
Muito se tem feito
neste mandato para colocar o concelho no rumo certo. Mas é incomparavelmente
mais o que está por fazer do que aquilo que está feito.
Não temos medo da
crítica. Vivemos bem com ela e é ela que nos ajuda a melhorar. Acedi a dar esta
entrevista neste espaço sabendo que ela ia ser alvo de grande escrutínio local,
e é perfeitamente identificável o que são críticas sérias, consistentes e com
fundamento – porque sabemos que erramos e nem sempre conseguimos ver todos os
lados de um problema – e o que é politiquice baixa e fundamentalismo bacoco. É
esta última parte que está a mais nos blogues e no nosso dia a dia.
Somos uma comunidade
pequena e frágil que deve estar fortemente unida nos desafios que tem pela
frente.
Aproxima-se um momento
eleitoral que vai ser vivido no mais difícil cenário de crise e dificuldades de
que temos memória recente.
Os alandroalenses vão
ter que fazer escolhas. E vão ter que escolher entre opções de futuro bem diferentes
e bem identificadas.
Será mais um momento
para o Alandroal demonstrar a sua cultura democrática e tenho a certeza que o
vamos fazer da melhor forma, mas deixo um apelo.
Não deixem que a
politica vos divida. Não deixem que alguns políticos vos dividam. Não deixem
que vos coloquem uns contra os outros. Não deixem que a politica crie barreiras
entre familiares, vizinhos, colegas de trabalho, etc.
Tenham “adversários
políticos”, não tenham “inimigos políticos”.
Critiquem, perguntem,
interessem-se! Queiram saber! Informem-se a fundo. Não se deixem ficar pela
superfície e pelo “diz que disse”.
E depois façam as
vossas opções, votem em consciência.
Uma comunidade
distingue-se pelos valores que pratica e não pelos que apregoa.
Penso que o
crescimento deste espírito no concelho tem sido um dos grandes contributos do
MUDA e é também por aqui o Alandroal deve aproximar-se mais do “quem de ti se
fiar não o enganes, lealdade em todas as cousas”.
PUBLICADO EM 11 MARÇO 2013