SIED - Seviço de Informação E Desinformacão
A Secretíssima Trindade –
ministro, espião e muito mais
Um caso de jornalismo
intempestivo pôs um ministro e um espião em rota de colisão… isto é… confusão.
E como quem conta um conto acrescenta um ponto, o caso gastou rios de tinta e
resmas de papel nos jornais do princípio do século. Principalmente à época, um
tal CM (Correio Mór) fez as delícias da populaça com apetências mórbidas para
histórias vampirêscas, casos de adultério (vulgo cornos), corrupção e intriga
política, condimentadas estas, regra geral, por clichés das anteriores.
Caro leitor, nada do reproduzido
é actual (ou atual)! Apenas o espírito humano permanece imutavelmente
depravadíssimo.
Capítulo I: O Almocinho
-Sim…, estou!
«Boa tarde Dr. Elvas…, é o
George.».
-George quê pá?
«George da Ongoering Dr.».
-Ah!... como está o meu amigo…,
isto não é perigoso pá… estar a contactar-me por telemóvel pá… eles até o
Cavaquinho Silverado escutam em Bérrém…
«Dr…, deixe isso por minha
conta…, está tudo sob controle».
-Sendo assim…, em que posso ser
útil ao meu amigo pá?
«O patrão Bruno Mausconselhos
encarregou-me de lhe fazer um convite para um almocinho de trabalho… nós aqui
na Ongoering trabalhamos também durante a hora de almoço…, brqrtrfrvr…»
-Estamos sempre abertos a esse
tipo de iniciativas: um almoço de trabalho…, contém comigo…, trabalho é comigo…
é do que este país mais precisa… gente trabalhadora… (como nós…, pensou em voz
alta o Dr. Elvas).
George Cara de Pau desligou o telemóvel dando aos lábios um trejeito
semelhante a um disfarçado sorriso, pois o agente toupeira, ou sobespião, nomes
porque também é conhecido no milieu das secretas, nunca sorri.
«Por esta é que o Mausconselhos
não está à espera…, vou sentar-lhe na mesa da sala Tojo o chefão-mor do próximo
governo do Passos Perdido… (o agente toupeira teve que morder com afinco os
lábios para não soltarem uma estridente gargalhada). E foi a cismar num mais
que justificado aumento do pré que George Cara de Pau deu três afinados toques
na porta do gabinete do chairman da Ongoering… e entrou.
Mausconselhos estava a tratar a secretária do gabinete, Liz Boa, que
se posicionara em cima da secretária de “pau santo” do patrão, que não havia
meio de se despachar, vindo ainda a assistir, o sobespião, ao arranjo da
compostura de ambos.
-Porra meu irmão…, essa mania que você tem de bater e entrar logo de
seguida tira-me do sério…, isto aqui não são os “serviços secretíssimos” onde
não há segredos para ninguém, onde cada qual sabe da vida de todos e todos de
cada qual!
Babyfaca, outro “heterónimo” do sobespião, fez jus ao apelido de Cara
de Pau, e tomou a seguinte nota no seu telemóvel: o patrão “come” a secretária
do gabinete que usa cinta de ligas e meia de lycra transparente… e pelos vistos
gosta à doggystyle… brqrtrfrvr…; enquanto o diabo esfrega um olho, a nota solta
foi arquivada na secção “manias e
depravações do patrão da Ongoering”.
-Já agora gostava de saber
porque interrompeste o meu momento de ginástica de pausa, sem te ter chamado…,
meu irmão espero que seja secretíssimo segredo de estado…, gritou, fora de
si, o Ongoering man.
«Ó boss, adivinha quem vem
almoçar?»…, os olhinhos de Mausconselhos rodopiaram nas órbitas ao
adivinhar a visita para o repasto…; «esse
mesmo meu irmão e patrão do coração… o Dr. Elvas pessoalmente», rematou
George Cara de Pau.
-Então quer dizer que temos o
Balsepé na mão…, Balsepé na mão?..., isto não me soa bem, rematou Bruno
Mausconselhos enquanto desamarrotava as calças da ginástica de pausa.
O almocinho, propriamente dito, bem comido e bem regado, onde se soube
a marca da caneta com que Ricardo Aposta escreve os seus perigosos artigos no
Expressamente Jornal (Monte Branca), terminou com uma frase lapidar do Dr.
Elvas: -meus irmãos vamos ver o que posso
fazer pá…, ou desfazer pá!
Mal sabia o Dr. Elvas que, durante o almocinho na sala Tojo, o agente
toupeira mandara os seus pupilos do serviço secretíssimo fotografar o seu pópó,
matrícula incluída, e decorá-lo nos interiores com dois potentes e invisíveis
aparelhos de TV Audio.
Capítulo II: Estou Ministro
-Está lá queriiida…, está lá?...
O Dr. Elvas não consegue ouvir bem a mulher, pois um besouro de fundo
corta as palavras.
-Vai para o meu escritório amor… talvez consigas
ouvir melhor… aí costumo ter boa rede – não desconfia o Dr. Elvas que duas
potentes e invisíveis atenas audio dão uma ajudinha na rede local.
«Sim querido… agora ouve-se como
se estivesses aqui». Dona Elvas esperava ansiosa aquele telefonema do
marido… para lhe comunicar que sim…, que sim…, já estás ministra fofinha. O
marido tinha toda a legitimidade em acreditar na sabedoria popular, que
confirma: mulher de ministro é ministra!
-Estou ministro querida…, amor…
ducha…, eheheheheheheh!..., ministro não… superministro pá!!!
«Mas o Passos Perdido manda mais
que tu filho!… ele é o nosso PM» - saiu da boca de Dona Elvas um gritinho
histriónico directo à bochecha nadegueira do marido.
-E quem manda no Passos
Perdido?... quiduchinha…, quem é?… diga lá amor: moi même…, je…
«Ó Krido Kridinho…, tenha
cuidado com a conversa… dizem por aí que um tal agente Cara de Pau anda a
escutar Portugal inteiro…» Dona Elvas disse o que disse com a voz mais
maternal deste mundo.
-E porque julga a minha menina
que eu estou a falar em francês?... esse agente Cara de Pau tirou um cursozeco de
línguas técnicas nas Novas Oportunidades…, num domingo de manhã!… Bom…, bom…, mas agora quem manda sou eu…, o
Passos Perdido é chefe do governo e o Dr. Elvas é chefe do Passos Perdido… ip
ip urra… ip ip urra… áferriá…, áferrié…
«Não venha tarde maridinho…, cá
em casa hoje há jantar e ceia reforçados ihihih…» - rematou Dona Elvas ao
desligar a bomba que tinha entre mãos.
Dizem que Quentin Tarantino veio a Portugal inspirar-se para
o seu primeiro filme Kill Bill. A fama do SIED (Serviço Informação E Desinformação)
chegara a Hollywood e os agentes da Secretíssima portuguesa poderiam lançar
pozinhos de inspiração, quer nas cenas de artes marciais, quer nas técnicas de
disfarce e vigilância utilizadas pelo Serviço de espiões mais hermético do
globo. O próprio Serviço de Sua Majestade Britânico MI6, sondado sobre o
assunto, teria aconselhado Tarantino na aventura portuguesa, já que o chefe da
Secretíssima, George Cara de Pau, era conhecido, no mundo do “virar do avesso a
vida alheia”, como “o espião dos espiões”.
Verdade, ou não, eis um segredo guardado a sete chaves nos cofres da Informação
e Desinformação Lusa.
É velhinho o ditado: o segredo é a alma do negócio.
Capitulo III: Na vanguarda da comunicação – Clippings e SMS
Pelo sim, pelo não, o
Dr. Elvas, a caminho da sede do PI (Partido da Irmandade) onde vai ditar ao PM
Passos Perdido as boas peças do emergente governo, telefonou ao agente de
segurança do seu gabinete (ainda sombra) para que pusesse a limpo o posto de
trabalho do tal George Cara de Pau, que lhe inundara, nesse mesmo instante, o
telemóvel ministerial com uma catrefada de SMS
(Sofisticados Meios Secretíssimos) e Clippings
(palavrão usado na gíria da
espionagem…, sem tradução, mas com o
sentido de “o que escorre é o melhor”) com nomes de mercados futuros para
os serviços secretíssimos.
O Dr. Elvas
recorda-se, como é óbvio, do almocinho de negócios na sede da Ongoering…, e da
irritação que lhe assomou ao semblante quando esse Cara de Pau o tratou por tu
sem pedir, ao menos, licença. O suor encharcou-lhe o lenço branco com que Dona
Elvas enfeitara o bolso superior do casaco do marido, ao reproduzir mentalmente
a voz da esposa através do telemóvel: «…um
tal agente Cara de Pau anda a espiar Portugal inteiro»!
-Ó Jácomo…, você faça uma revisão aos interiores do meu
automóvel…, para não termos surpresas desagradáveis com os da comunicação
social, que gostam de meter os olhos e os ouvidos onde não são chamados…,
compreendeu(?)
«Sim senhor ministro», respondeu Jácomo assertivamente, lançando um sorriso invisível
no espelho retrovisor. Se o senhor ministro o tivesse detectado, talvez ficasse
de pés e mãos atrás com o seu motorista particular, pois o simpático e
prestável Jácomo é um agente infiltrado dos serviços secretíssimos ao serviço
do seu ex chefe George Cara de Pau.
Ao chegar a São Catano
o ministro Elvas tinha à sua espera o irmão Marcus Sinfrónio que, com a
incumbência de ter uma palavrinha a sós com ele, quase se atirava para baixo do
carro de sua excelência. Valeu-lhe a perícia de Jácomo que, mesmo assim, não
ganhou para o susto.
- Ó Marcus Sinfrónio…, com tanta notícia falsa e boato a
correr por aí, só faltaria mesmo esta de o meu carro o ter atropelado…, ou
antes…, de você ter atropelado o meu carro. Por aqui também parece que anda
tudo doido. E ainda não fomos tomar posse, quero e mando com o Cavaquinho
Silverado!
«Estou nervoso…, muito nervoso…, senhor ministro de Estado…,
o estado a que as coisas estão a chegar não augura nada de bom» - via-se que Marcus Sinfrónio estava
à beira de um ataque de nervos.
-Homem acalma-te…, tem compostura…, o momento político requer
frieza e nervos de aço…, toma lá um comprimidinho aqui dos meus que eu hoje já
tomei três – o Dr.
Elvas toma Valdispert para todo o tipo de sintomas – mas conta como está o ambiente aqui em São Catano …, já sabidas
as gracinhas daquele tal George Cara de Pau… que ninguém conhece…
«O Passos Perdido está passado…, melhor dizendo…, quase a
passar-se…, repete que “uma barraca destas servida ao país pelo meu ministro de
Estado nº 1…, e logo com os troikanos cá outra vez…, a espiolhar por tudo
quanto é sítio…, não me faltava mais nada…, chamem o Elvas!» E logo um coro de vozes se ouviu do
interior da São Catano: “ó Elvas…, ó
Elvas…”
O Dr. Elvas ainda
pensou: -olha…, estão a cantar a canção
do Paco em minha homenagem!
«Em sua homenagem o tanas – berrou o Dr. Passos Perdido em cima do nariz dum
espantado Dr. Elvas – então você mete-se
numa sarilhada destas… quero dizer…, mete-nos a todos neste arroz à valenciana
em véspera do Cavaquinho Silverado nos empossar…, ó Elvas…, Elvas… ele não
morre de amores por nós…, lembre-se que o Cavaquinho partiu uma das jarras mais
valiosas que Bérrém se orgulhava de ostentar…, ainda do tempo da viagem do
Vasco da Gama…, assim que lhe comunicaram que nós tínhamos ganho o partido!!!
-Calma Senhor PM…, muita calma…, se houve asneira, calma e
cabeça fria não fazem mal a ninguém para colmatar algum dano do lado de cá – o Dr. Elvas transparece
tranquilidade, confiança e, acima de tudo, seriedade!
«Então o que propõe o meu ministro de Estado nº 1, como plano
de ataque…, melhor dizendo, de defesa» - os níveis de adrenalina do PM, sem dúvida, já estavam
quase no seu normal, e ao acentuar a sua posição de superioridade na irmandade
com aquele “meu ministro de Estado nº 1” bem
vincado, fez perceber ao Dr. Elvas que o Senhor PM dera uma mijadela, como um
cãozinho caniche a marcar território à porta do dono.
O ministro Elvas
aproveitou, o “acto biológico” tão digno de um PM, para fazer ouvir a sua voz
de comando, lembrando a todos que a melhor defesa é o ataque: -penso que estamos todos com dificuldade em
digerir o que não passou de um almocinho inocente com os comandos da Ongoering;
deixemos a tempestade amainar para amanhã navegarmos à bolina até Bérrém.
«Mas ó Elvas…, não houve um gajo da Secretíssima que te
escarrapachou com umas listagens de irmãos no télélé?». A pergunta do PM, feita com
evidente despropósito, foi abafada por inteligente intervenção de um homem do
norte:
«ao ataqueeeeee…, bradou Marcus Sinfrónio, perante o olhar
atónito de todos os presentes na sala vip da São Catano…, a melhor defesa é o
ataque» – rematou
firme.
Capítulo IV: Depois da bonança a tempestade – o costume
Quase um ano de paz
governativa trazia o Dr. Elvas num reboliço de negócios, visitas e inaugurações
pelos cantinhos mais recônditos da Lusitânia.
Foi precisamente num
desses passeios festivos e de distribuição de benesses aos correligionários do
voto na hora, com vivas ao governo atirados como papelinhos de Carnaval, que
surgiram as primeiras nuvens no firmamento do Dr. Elvas. O Assessor para a
Vigilância e Combate aos Media (VCM) manchou aquele banho de louvores e hinos
ao senhor ministro de Estado nº 1, quando o puxou pela manga do casaco e lhe
segredou ao ouvido – o que irritava solenemente sua excelência: «doutor…, peço desculpa…, acabo de receber
uma informação secretíssima do nosso irmão George, que também saiu hoje no
Expressamente, sobre um tal Nunes Semedão… jornalista…, que se diz vítima de
escutas telefónicas pelos SS».
O ministro Elvas,
embevecido com os vivas e revivas da exultante multidão, fez o comentário mais
apropriado ao momento, mas revelando desconhecer as bátegas de água bem gelada
que lhe iam cair em cima: -não conheço
nenhum George Nunes Simão! E dito isto sacudiu o assessor, voltando à
euforia da festa ao som do fandango ribatejano – “se tens pau agarra-te ao pau…, se não tens agarra-te ao meu…”.
Só mais tarde, de
regresso à capital, dormitando no banco traseiro do seu automóvel de Estado, se
deu conta do recadinho que o incansável assessor lhe tentara transmitir.
Lá estava na 1ª página
do Expressamente Jornal, esse fazedor de inventonas, a sua fotografia ao lado
do George Cara de Pau, com o título “Irmãos da sob-loja M”.
“Car^alhoooooo”… !!! ..., berrou o ministro Elvas em português vernáculo que fez estremecer o interior do pesado
automóvel à prova de bala em que se faz transportar sua excelência, palavrão
felizmente abolido com o novo acordo linguístico luso- brasileiro.
-Ó assessor…, liga-me a esse gajo para o pôr na ordem…, isto
está a passar das marcas… diz-lhe que estou possesso…, tipo demónio à solta…,
ou abafa já…. imediatamente… agora… a barraca…, ou mando triturá-lo numa
daquelas enfardadeiras de Rio Maior.
George Cara de Pau,
que tranquilamente dormia uma sestinha no seu gabinete da Ongoering, acordou
sobressaltado e de revólver em punho, como qualquer espião que se presa,
reagindo ao trim trim do télélé ( no caso em questão a música do filme do James
Bond 007 – live and let die).
«O senhor assessor activou-me todas as defesas…, há três noites que não prego olho colado ao
Balsepé… já tenho algumas vinte páginas de ficheiro com as actividades desse
menino.» - o
sob-espião tinha grande à vontade com o assessor ministerial…, e o Dr. Elvas
fazia-se de parvo para ir tirando vantagem de toda a informação filtrada para o
ex chefe agente toupeira pelos
corre-legionários ainda activados.
«Ó Cara de Pau…, o senhor ministro está muito…, digamos…,
agastado com as notícias do Expressamente sobre um tal jornalista Nunes Semedão…
porque, ainda por cima, chaparam com a sua fotografia (do senhor ministro de Estado nº 1) junto com a tua… em amena cavaqueira…
parece… » - o assessor engoliu em seco ao vislumbrar a expressão colérica
do Dr. Elvas.
Do outro lado da
antena o agente toupeira disse um
palavrão de grau 6.9 na escala de Berluscona
e foi incisivo: « se o gajo está
com agasturas que chupe pastilhas rennie… … e quanto à montagem fotográfica
desse pasquim dos sábados… olha ó assessor…, o gajo devia era estar babado por
aparecer ao lado de “GEORGE: O ESPIOLHÃO DO SÉCULO”!».
Foi então que o Dr.
Elvas percebeu que, uns tempinhos atrás, embarcara num almocinho com um tipo
completamente doido…
Uma explicação para o leitor que tem acompanhado esta
trapalhada do SIED (Serviço Informação E Desinformação): quando um cidadão mete
a mão para recolher informação para qualquer outro cidadão desta Nação poder
ajuizar com correção, logo surge o habitual coro de lamentação: ai… ai… ai…,
vai lá vai que estão a bater no pai e na
mãe e não se pode dizer mais nada porque os meninos ficam ofendidos. E quando
os meninos ficam ofendidos já sabemos que haverá fuga para a frente.
Pois… choveram mais SMS e Clippings, telefonemas anónimos e
emails, nos meus telemóveis e portátil, do que a chuva que caiu durante o
Inverno passado.
Assunto recorrente: ofensas pessoais e a familiares, estes
nada tendo a ver…, desconhecendo mesmo os conteúdos das minhas crónicas de
investigação.
Claro que acabei por levar uns socos à saída do emprego…,
enfim… ossos do ofício, felizmente sem nenhum osso partido.
Com mais uma investigação
em pleno desenvolvimento, a questão curricular do Dr. Gabriel Elvas,
aqui fica também um registo do que se pode, ou não pode, apurar.
Capítulo V: a escutar Portugal inteiro
Na estória da espiolhagem
portuguesa, desde os tempos do zaragateiro
Afonso, certamente o primeiro caso de violência doméstica praticado
entre nós, com dimensão histórica – desancou a mãe na batalha de S. Mamede –…,
passando pelos exmos frades dominicanos, mestres nos tratos de p. e p.…, e pelo
exmo marquês…, esquartejador da nobre nobreza portuguesa…, e pelo intendente Pina, avesso aos ventos
ciclónicos da revolução francesa…, e termino as nomeações soletrando apenas o
nome do major Silva, campeão do terror à moderna portuguesa…, nenhuma destas
pragmáticas instituições poderia ombrear com a vanguardista SIED (Secretíssima
Informação E Desinformação). Não nos referimos à prática de tortura, nesse
aspeto podemos dizer que os agentes têm os pés limpos, mas sim ao acompanhamento
de todo e qualquer cidadão que, pelos seus compromissos, atos ou negócios,
possa vir a pôr em risco a harmonia da Irmandade Secretíssima.
E não há memória de
tamanha inteligência a dirigir a Secretíssima como o sob-espião George Cara de
Pau. Conhecedor dos meios de investigação mais modernaços, consolidou uma base
de dados pormenorizada sobre as questões tão simples quanto relevantes sobre o “cadastro”
multifacetado dos personagens.
Pode ler-se, a páginas
tantas…, no ficheiro de um qualquer arqui-inimigo: …tem seis dedos em cada pé…
ou só corta o cabelo se o Benfica for campeão… ou ainda…, come de boca aberta…
…e tem caspa que se farta; qualquer um é apontado certeiramente quando é
necessária uma identificação eficiente; em outra ficha chega ao pormenor de
anotar que o ministro “fulano de tal” tem dez cabeleiras postiças, assim como o
número de cabelos que possui cada uma.
Um pasmo de
competência e ação habita na casa dos segredos secretíssimos…, foi esta a
desinformação que o PM Dr. Passos Perdido transmitiu ao país e em particular
aos portugueses…, …que podem dormir de
portas abertas e com o computador ligado (hoje a maior parte dos
portugueses tem portátil para preencher o IRS).
Este pequeno equívoco
do Senhor PM, desconhecendo a mudança de habitat do tal “pasmo de competência”,
levará mais tarde a uma embrulhada governamental tão inimaginável quanto foi,
depois, o seu pedido de proteção política ao troglodita da ilha da Bananeira.
Com os mais enlevados
sonhos patrióticos, divagando ao sabor da rotineira soneca pós prandial na
mansão da Ongoering, George simplesmente, como adora chamar-se a si próprio,
foi sacudido do seu estado quase hipnótico pelo Hino Nacional, completo de
música e letra, toque que introduziu no seu telemóvel particularíssimo.
-Está lá…, está…, é o George pá?
«Como está o meu amigo… Senhor Ministro Dr. Elvas?»
-É pá!... você soube logo que era eu pá!... – George adivinha o estado emocional
do Senhor Ministro pela alta frequência com que usa o “pá” no discurso directo…
e indirecto também.
«Claríssimo meu amigo… então para que me serve uma listinha
de vozes que me dei ao trabalhinho de guardar em ficheiro sonoro da
Secretíssima?».
-ÓÓÓÓ… mas isso é antidemocrático…, quero dizer
anticonstitucional!!! Se a oposição sabe
de uma coisa dessas… é uma bomba mais barulhenta que a atómica (úúúúúú).
«Anti quê?... …Senhor Ministro… cabeça fria… cabeça
fria… temos a mão na massa… não vamos
dar o ouro ao bandido…, quero dizer…, à oposição…; …mas a que devo a honra
desta hiperligação, para além da grande satisfação que me dá sempre ouvi-lo?».
-Ó Senhor Dr. George…, digamos pá que tenho aqui um
probleminha entre mãos com uma espécie de jornalista do Púlpito… uma tal Maria
José Palmeira pá… que me anda a moer a cachimónia… e o meu amigo sabe que quando
nos moem a cachimónia pá não conseguimos pensar… o que este país mais precisa
de nós… do governo pá… - George ouvia atentamente o Sr. Ministro Elvas a roer as unhas ao mesmo
tempo que debitava doses maciças de ansiedade em cada palavra articulada – ora pois, pensei eu, o George Cara de Pau
deve ter dados interessantes pá da folha curricular desta menina pá!
«O Senhor Ministro pensou… e pensou muito bem…, pois sobre
qualquer jornalista…, por mais badameco que seja…, os nossos ficheiros são
secretíssimos…, isto é, completíssimos… claro está!».
-Mas… deixe-me perguntar-lhe George, por uma questão de
curiosidade pura…, essas completíssimas fichas são de quem…, dos Serviços ou da
Ongoering?
«Minhas… meu…, minhas após anos a fio de serviço de
toupeira!», disse
George Cara de Pau denotando alguma irritação, que o fez não medir, com o rigor exigido pelo seu
estatuto, o modo como se dirigiu a sua excelência o Senhor Ministro de Estado
nº 1 Dr. Elvas.
-Então sendo suas vamos a isto… pá…
«Vamos a isto… pá… uma
ova! Vamos primeiro analisar uns pendentes…, senhor ministro pá!», atalhou bruscamente George Cara de
Pau, o que deixou sua excelência em crescente grau de perplexidade.
-Ó George… o meu amigo acredita pá que agora não estou a
perceber nada dessa sua conversa… pá!?
« O senhor ministro abusa do queijo e um dia destes apanha
uma camada de brucelose…é o mais certo» - o agente toupeira sorria discretamente para si ao imaginar
o frenesim gestual que acometia o Dr. Elvas.
-Bruce… quê?..., perguntou o ministro, pensando que o agente toupeira já
estava a passar das marcas.
Mas não estava: George
Cara de Pau avivou a memória do Dr. Elvas sobre um telefonema que este fizera
para a sua esposa, anunciando-lhe que estava ministro…, …onde veio à baila um
despropositado gozo com ele próprio, George Cara de Pau, sobre o seu grau
académico, nomeadamente no domínio das línguas técnicas francês e inglês… …o
que considerou uma ofensa pessoal e idiota, de quem mais valia meter a língua
no saco. A cólera assomara agora ao rosto do sob-espião numa dose qb.
Um pesado silêncio
percorreu de um lado para o outro a rede, sendo comutado por um gaguejante Dr.
Elvas: -ó…ó…ó… di… di… diabo…, a Duchinha
sempre tinha razão… você anda a escutar Portugal inteiro… pá!
«Eu…, senhor ministro?…, … então leia amanhã o
Expressamente…, que vai ter saudades do dia em que a minha fotografia, ao lado
da sua, lhe provocou agasturas abdominais… … e talvez perceba quem anda a
escutar quem ».
George cortou propositadamente a chamada, sabendo que, do outro lado da rede,
uma palidez de morte tomava conta do rosto de sua excelência o senhor ministro
de Estado nº 1.
Capítulo VI: o sabichão (ficheiro informático recolhido por
GCP)
O comentador anónimo do capítulo anterior sugeriu-me que a
“questão da licenciatura” fosse abordada. Bronca em pleno desenvolvimento, está
visto que o Dr. Elvas não acerta uma…, isto é…, quanto mais quer acertar mais
desacerta.
Tendo-me cheirado a esturro, pois é mais que certa a
existência de toupeiras no AL Tejo, como na generalidade dos media, não resisti
a investigar o assunto que ensombra a secular Instituição Universidade.
É escusado dizer que
Universidade está inocente!
Os patifes, com grandes esquemas de compadrio e corrupção,
proliferam no mundo da política e das negociatas como abelhas à volta do mel.
Não tendo tempo para dedicar à leitura dos livros da sabedoria, esgatanham-se
para arrancar um título de doutor a qualquer preço. É uma afronta àqueles que
dedicam a vida inteira ao estudo.
Lembram-se da máxima do Vasco Santana: “doutores há muitos”…
Desde que nascera, o
Dr. Elvas fora colecionando créditos, pensando os papás que num futuro, embora
distante, uma, ou mesmo duas licenciaturas nunca seriam demais.
Nesses tempos de
analfabetismo nacional, saber ler e escrever era uma ousadia quase tão grande
como ter dito, uns tempos antes, que a Terra girava à volta do Sol. E ser
doutor era um título mitificado… (mistificado), a tal ponto, que elevava o seu
titular quase às portas do Olimpo: se um doutor dissesse sim…, era sim senhor doutor…,
se um doutor dissesse não…, era não senhor doutor…, … quem é que se atrevia a
contradizer um doutor?!
Com base nestas
premissas, foi logo religiosamente guardado, no cofre da casa paterna, o
chupetão onde o bom do Elvinhas desenvolvera uma bem treinada musculatura de
sucção, até ao início da idade escolar. “Ainda
pode vir a fazer-lhe falta” – disse o pai!... (grande é a sabedoria dos
mais velhos).
No entanto, os
desígnios do destino nem sempre cumprem as aspirações familiares, como muito
bem o comprova o case study deste promissor estadista… … o Dr. Gabriel Elvas.
Passar as páginas dos
livros…, uma a uma…, depois de bem lidas e interpretadas, era uma sensaboria
pior do que ir ver um jogo do Sporting
Clube De Portugal, assim pensava o jovem Elvas.
Não foi por falta dos
conselhos do pai Elvas, que a toda a hora lhe preenchiam os ouvidos: “meu filho…, agarra-te ao verbo…, olha que
um canudo vale mais do que a herança da tia Mariana e do pai… … juntas…, depois
hás-de torcer a orelha e não deita pinga”…, assim se expressava
quotidianamente a preocupação paterna.
Mas qual quê…, o
Elvinhas tinha herdado na têmpera uma aversão ao estudo tão grande como o seu
gosto por festas, farras e noitadas a jogar ao sete e meio.
Um dia, já moço
espigadote, o bichinho da política perfurou-lhe a epiderme e tomou-lhe conta
dos interiores. De nada valeram as palavras sensatas…, umas, outras
ameaçadoras, do progenitor para o demover de tal desgraça: “os políticos são todos uns pantomineiros…, anda um homem a criar um
filho para isto…, desgraçado… …ainda te deserdo… eu e a tia Mariana”…
A Gabriel Elvas esta
cantilena entrava por um ouvido e saía pelo outro!
Aconteceu…, num
comício da JSD (Juventude Sem Desemprego), após um discurso inflamado do líder,
o Dr. Passos Perdido, o nosso amigo ora se levantou…, ora se sentou…, bateu
palmas e berrou “Apoiado” tantas vezes quantas as que foram necessárias para o
orador lhe dar a devida atenção…, a ele…, posicionado logo ali, na primeira
fila.
Por fim, o Dr. Passos
Perdido foi ao seu encontro de braços abertos, cumprimentando: «como está o doutor…, muito obrigado pelo
apoio doutor…, contamos consigo doutor…, a tiá Guidá…, onde está a tiá Guidá?…,
…tiá dê uma ficha de inscrição ao doutor…, partido e irmandade incluída».
Elvas ainda balbuciou,
com aquela ingenuidade digna dos principiantes: -doutor…, olhe que eu não sou doutor pá…, ainda nem acabei o 9º ano…
«Qual quê!!!»…, disse o chefão da JOTA (Jovens Operários e Trabalhadores
Associados)…, «aqui somos todos doutores…
… doutores em “Ciência Política e
Estudos Estrangeirados”…, é o C.V. de todos os jotas … concordas meu?».
A quase ultrapassada
timidez do Elvas logo o fez questionar: -e
o canudo pá?
Foi a voz esganiçada
da tiá Guidá que prontamente esclareceu:
«Meu caro doutor Elvas…, o cartucho…, perdão…, o canudo… …
estamos a tratar do assunto na Lusófila!».
Epílogo
E que bem trataram do
assunto! Veio aos órgãos de comunicação social o excelentíssimo administrador
da Lusófila, botar lição de sapiência para todo e qualquer cidadão desta Nação:
“se ele (quem?) já
sabe tudo…, não vem cá fazer nada… e dá-se-lhe o canudo!” (sic.)
AC
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